a unha afiada do suicida
rasgando as lembranças
o esquecimento proposital
da ferida bruta despida
somos nós os sobreviventes
de amores nucleares
aqueles que matam em gotas
e diluídos no tempo
deixam sabores inesquecíveis
“Nós, os que perecemos, tocamos os metais, o vento, as margens do oceano, as pedras, sabendo que seguirão, imóveis ou ardentes, e eu fui descobrindo, dando nome às coisas: foi meu destino amar e despedir-me.”
~Pablo Neruda~
O mistério estava nos olhos. Estes eram opacos, não sempre nem tanto que não fossem também lúcidos e agudos, e neste último estado eram igualmente compridos; tão compridos e tão agudos que entravam pela gente abaixo, revolviam o coração e tornavam cá fora, prontos para nova entrada e outro revolvimento.
Vontade, no entanto, de ficar assim sentado, com caneta e papel, à espera de alguma coisa. Não disse alguém que o homem escreve para matar a própria morte? Talvez seja esse sentimento que me coloca, a contragosto, nessa posição para mim meio ridícula, como um espírita em vias de psicografar mensagens do além. Porque o além está presente, disso não haja a menor dúvida.
E se tu viesse me ver hoje à noitinha? Assim, sem muita conversa, sem muita expectativa dos dias que ainda vão passar. Só viesse ser hospede aqui no meu coração – acredite, faz sol aqui dentro. Mas viesse sorrindo. Pois um sorriso custa tão pouco. E o amor, hoje, se faz tão raro.Deita comigo, deixa eu brincar com a tua boca; ouvir o eco dos teus passos indo à cozinha; ver teu riso de alívio; sentir a tua mão na minha. Me acarinha as costas, some comigo no fim de semana, deixa nossa boca rimar, me suja de amor, canta comigo no chuveiro, me deixa cheiro de café no beijo de bom dia.
Ontem faltou luz em todo morro
Eu vi ela passando sob a luz da lua
O medo e a incerteza rondavam pelas vielas
E o vai e vem distante, vindo das luzes nas ruas
Sigo procurando, quero encontrar aquela
Tal felicidade que já morou em mim
Cantarei pra ti uma canção bem singela
Só pra te olhar e ver partir
Agora estou sentindo um cheiro de café, estranho que não é o café que minha mãe faz, tampouco o café da minha cafeteria preferida. É o cheiro do meu café que, consequentemente, me remota a ideia de que eu sei fazer um excelente café. Mas esse reconhecimento que eu sei fazer café nada mais é que, entre tantas as vezes que fiz café, teve uma em especial que eu estava mais feliz, mais completa, mais plena. E todos esses adjetivos eu ligo ao simples café que fiz, e que vou fazer agora. Quem sabe assim eu consigo um teletransporte para o eterno segundo do mundo paralelo do meu café perfeito.
- Paulo Leminski,
Partir!
Nunca voltarei,
Nunca voltarei porque nunca se volta.
O lugar a que se volta é sempre outro.
"Mas as coisas vão acontecendo… as pessoas se vão, ou deixam de nos amar, ou não nos entendem, ou nós não as entendemos… E nós perdemos, erramos, magoamos uns aos outros. E o navio começa a rachar em determinados lugares. E então, quando o navio racha, o final é inevitável. (…) Mas ainda há um momento entre o momento em que as rachaduras começam a se abrir e o momento em que nós rompemos por completo. E é nesse intervalo que conseguimos enxergar uns aos outros. "
encerrar ciclos sem pontos finais, ponto.
Não é fácil “desviver” o já vivido. Zerar a conta. Pedir uma nova rodada. Colocar em prática a velha balela de que o presente deve se construir sobre o passado. Viver é para os fortes e você é um deles. Se já chegou até aqui, provavelmente não morrerá disso. Talvez lhe doa entender que o ciclo fechou, mas amanhã (eu prometo, amanhã) se dará conta que o ciclo não se fechou coisíssima nenhuma. O que aconteceu foi que outro ciclo se abriu. Você lembrou que não é a primeira vez. Que já passou por baques mais fortes. Mas você já está na estrada novamente. Um pouco debilitado, como todo bom soldado que volta da guerra. Mas está em pé. Pronto para começar uma nova jornada com destino (ainda) desconhecido.
"O amor é luz e sabe da vastidão que abrange. Tudo que toca exala uma aura mágica, cheia de dinamismo, otimismo e simpatia"- VanelliDoratioto
[...]Eu tive que trancar minha porta [...]
"Eu já não tenho mais tempo para te dizer. Te digo, então, que eu sinto muito por você ter sentido tão pouco"
[...]
As poéticas balbuciadas dos lábios, são os sonetos das tardes de café, são as estórias contadas como se fossem segredos. Sussurradas em meio a tons, quase que indecifráveis
[...]
Alma, o movimento do espírito
Obvious
Anna Claudia
"E, pouco a pouco, foi-lhe surgindo na alma um romance, radiante e absurdo: um sopro de paixão, mais forte que as leis humanas, enrolava violentamente, levava juntos o seu destino e o dela. (…) E toda a sorte de ideias de amor, de devoção absoluta, de sacrifício, invadiram-no deliciosamente - enquanto os seus olhos se esqueciam, se perdiam, enlevados na religiosa solenidade daquele belo fim da tarde."
"A princípio foi esse olhar um simples encontro; mas dentro de alguns instantes era alguma cousa mais. Era a primeira revelação tácita, mas consciente, do sentimento que os ligava. Nenhum deles procurara esse contacto de suas almas, mas nenhum fugiu. O que eles disseram um ao outro, com os simples olhos, não se escreve no papel, não se pode repetir ao ouvido; confissão misteriosa e secreta, feita de um a outro coração, que só ao céu cabia ouvir, porque não eram vozes da terra, nem para a terra as diziam eles. As mãos, de impulso próprio, uniram-se como os olhares; nenhuma vergonha, nenhum receio, nenhuma consideração deteve essa fusão de duas criaturas nascidas para formar uma existência única."
Não fosse perfume que fica no casaco, não fosse os olhos escuros, não fosse o beijo que me acorda e faz o dia começar pra valer. Não fosse, enfim, você, que tirou meus bloqueios e minhas dúvidas tão fácil quanto tirou a minha camisa e me fez dizer “Eu te amo” pela primeira vez.Eu quase desacreditei. Não fosse você.
- Entretodasascoisas,
Douglas Cordare -
E o amor sai com a gente de bicicleta só pra passear
O nosso abraço levado nas asas do cometa noturno
Faz colorir o mundo e as fábrica funcionar
Felicidade por segundo
Um batuque vagabundo e belo que faz sorrir
Ogum
Ooogum
"Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos tendo pés não me alcancem
Tendo mãos não me peguem não me toquem
Tendo olhos não me enxerguem
E nem em pensamento eles possam ter para me fazerem mal"
“Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, estando a dormir ou acordado.”W. Shakespeare
“O ar tinha gosto de sábado. E de súbito os dois eram raros, a raridade no ar. Eles se sentiam raros, não fazendo parte das mil pessoas que andavam pelas ruas. Os dois às vezes eram coniventes, tinham uma vida secreta porque ninguém os compreenderia. E mesmo porque os raros são perseguidos pelo povo que não tolera a insultante ofensa dos que se diferenciavam.”
"E aquilo que o discípulo aprende ao escutar o coração da flor e o que incorpora a seu próprio coração, ele repartirá com os outros, de modo generoso e desinteressado. Assim uma eterna corrente de amor flui do coração da flor para o coração do homem, chegando até o coração do Todo, e do mesmo modo no sentido inverso"
"Ao despois de depois, andaram dizendo que você tinha inventado uma língua nova e eu não gosto de língua inventada. Sempre arreneguei de esperantos e volapuques. Vai-se ver, não é língua nova nenhuma a do Riobaldo. Difícil é, às vezes. Quanta palavra do sertão! A princípio, muito aplicadamente, ia procurar a significação no dicionário. Não encontrava. (…) Tinha vezes que pelo contexto eu inteligia: ‘ciriri dos grilos’, ‘gugo da juriti’ etc. Mas até agora não sei, me ensine, o que é ‘arga’, ‘suscenso’, ‘lugugem’ e um desadôro de outras vozes dos gerais. Tinha vezes que eu nem podia atinar se a palavra era nome de bicho vivente, plantinha ou coisa sem corpo nem côr nem coragem, abstrato que se diz, não é? Ou é? Ou será? Ainda por cima disso, você fez Riobaldo poeta, como Shakespeare fez Macbeth poeta.”
" O Ser-Tão é o mundo [...] No sertão, o homem é o 'eu' que ainda não encontrou um 'tu'."
Há-de haver uma cor por descobrir,
Um juntar de palavras escondido,
Há-de haver uma chave para abrir
A porta deste muro desmedido.
Há-de haver uma ilha mais ao sul,
Uma corda mais tensa e ressoante,
Outro mar que nade noutro azul,
Outra altura de voz que melhor cante.
Poesia tardia que não chegas
A dizer nem metade do que sabes:
Não calas, quanto podes, nem renegas
Este corpo de acaso em que não cabes.
“te amo ainda que isso te fulmine ou que um soco na minha cara me faça menos osso e mais verdade.”hilst
[dezembro 02UTC 2012]
Quarto. Sala. Festa lotada. Corredor. Vagão de metrô. Qualquer lugar em que você esteja se torna subitamente pequeno demais, quente demais e eu me pego pedindo para todo mundo mais desaparecer e tudo virar eu, e tudo virar você, e tudo virar nosso abraço torto, nossa urgência de toques, palavras, gargalhadas histéricas.
Hora, possibilidade, instrumento rasgado parede sonora, elevação de linha abaixo do horizonte, toque banal, crua emoção de todo mundo, vestígio tranquilo nota deixada, timbre suavidade e raiva. Contraponto toda hora. Possibilidade. Não cansa quando continua, desmonta-se em vertente, cópia e fluxo. Continuação do toque, roçando a transição do movimento em frequência, falando do comum em entonação incomum. está vivo e permite.Angela M. - Rastro.
"O silêncio nos parava. A verdade era a cerveja que colocavam nos nossos copos "
TCamelos.
DanCorrea
[...] era pura atração. Sempre disse da mágica do corpo dela – foi difícil dizer.
[...]O tempo pesou. Diz que choveu. Mas a hora foi cedo. [...] ela já tinha outro olhar e olhares e olhares. E era tão perto.
"A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios."
lamento não estar totalmente presente
lamento que os meus ouvidos sejam cinzentos
ainda que eu
permaneça
intencionalmente
ou por necessidade
lamento que a minha sutil distração
dilua o teu sorriso
como um esquecimento momentâneoA-meili; Rastro.
- Preciso me despir de imaginários; 1ª limpeza.
Eu to com uma vontade danada
De te entregar todos beijos que eu não te dei
E eu to com uma saudade apertada
De ir dormir bem cansado
E de acordar do teu lado pra te dizer
Que eu te amo
Que eu te amo demais
Eu pensava ter uma bicicleta
E pedalar até a tua rua
Dizer que ainda sou tua