quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

não lugar,

[...]
Quem vai, vai porque precisa
Quem fica, fica porque não pôde ir
Quem fica é quem sofre
[...]


"Minha escultura não reage mais ao som não transpira
Na madrugada insône o tempo compõe um lamento sem par
Espasmos, maldições"
[...]
Tua sequência pode ser pra aniquilar
Me pede pra encontrar o teu suspiro
Que eu fecho os olhos pra te apontar onde está



nãolugar-mesmo.
ellen O.
"Veja você, onde é que o barco foi desaguar"
[...]

conversadebotasbatidas'

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

1camões

-
Vossos olhos, Senhora, que competem
Com o Sol em beleza e claridade,
Enchem os meus de tal suavidade,
Que em lágrimas de vê-los se derretem.

Meus sentidos prostrados se submetem
Assim cegos a tanta majestade;
E da triste prisão, da escuridade,
Cheios de medo, por fugir remetem.

Porém se então me vedes por acerto,
Esse áspero desprezo com que olhais
Me torna a animar a alma enfraquecida.

Oh gentil cura! Oh estranho desconcerto!
Que dareis c' um favor que vós não dais,
Quando com um desprezo me dais vida?
-

Vossos Olhos, Senhora, que Competem

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

[...]

Ela mora no mar
Ela brinca na areia
No balanço das ondas
A paz, ela semeia

[...]

Oguntê, Marabô
Caiala e Sobá
Oloxum, Ynaê
Janaina e Yemanjá
São rainhas do mar

- Ialaó, oquê, ialoá
Em noite de lua cheia

Marisa M.

Capitolina, Olokun



ifé.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

as lágrimas no olho do peixe

[...]
E o peixe que nunca tivera dores
Nem problemas com amores
Pois sua memória e consciência no mundo
Duravam sempre trinta segundos
Porém, depois de ver aquele ser,
Arcanjo rompendo seu casulo, num pulo.
Criou fixa idéia na mente
E amor e morte... só sente.
[...]

A lenda do peixe Francês
Validuaté

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

-

Sabe, ela tem um sorriso que parece que tranquilidade é sobrenome, e o mais lindo de se ver é que ela possui fraquezas perceptíveis e mistérios escondidos dentro dela.
[...]

Quando a gente se olha, a gente não troca ideia, a gente troca vidas.

- Jonas Sakamoto

uma coisa boni-ta

Eu quis te escrever uma coisa bonita porque é tão bonito o que você faz comigo, que eu tenho vontade de te escrever todas palavras bonitas do mundo. Arco-íris, samba, mar, abraço, cafuné, café, apego. Pra te dizer coisa bonita e leve e simples,eu coloquei um João Gilberto baixinho, só com um violão cantando uma bossa. Eu queria que você lesse isso assim, com essa sensação de pôr-do-sol, de tato de pescoço com o toque de lábios, de dedo enroscado em cabelo e colo de frente pro mar. Eu te queria uma sensação bonita.

É tanto silêncio e é tanto barulho, que eu queria te dizer uma coisa bonita que calasse a tolice e te fizesse acreditar que sempre vale a pena. Queria (sem rima e sem verso, porque rima e verso são poesia e poesia é você) te dizer com palavras bonitas que não é mentira, não é exagero, não é nada. Simplesmente é.

Eu queria te dizer uma coisa tão bonita, que desse pra sentir os meus braços nas tuas costas e a escola de samba que eu tenho no peito contra o teu. Que trouxesse a sensação de conforto que só um abraço par traz. Eu queria te dizer uma coisa mais bonita que o silêncio do desconhecido próximo, mesmo sabendo que coisa mais bonita não pode haver. Queria te dizer uma coisa tão bonita quanto o suspiro que enche o pulmão de ar e transforma quilômetros em arrepios.

Queria te dizer que meu peito que era marina virou barco e que minha direção é o céu. Eu quis te mandar – por pensamento, por carta, por bytes, por notas musicais, por toque, por cheiro, por carinho – um pedaço do meu nublado. Afinal de contas, a solidão das tuas nuvens gris e do meu algodão doce, que eu só quis te dizer uma coisa bonita pra que você percebesse que aqui dentro não chove. Faz Bahia.

-Contos e Crônicas
Marina Melz.

ceu

Rosa, menina rosa


Quem tem saudade não está sozinho
tem o carinho da recordação
por isso quando estou mais isolado
estou bem acompanhado com você no coração

Um sorriso,
um abraço e uma flor
tudo é você na imaginaçao
serpentina ou confete, carnaval de amor
tudo é você no coração
você existe como um anjo de bondade
e me acompanha nesse frevo de saudade.

- frevodasaudade

-


O peso de sentir! O peso de ter que sentir! - 136.


310. -  "Minha alma é uma orquestra oculta; não sei que instrumentos tangem e rangem, cordas e harpas, tímbales e tambores, dentro de mim. Só me reconheço como sinfonia".

lDOd.

bolas de gude'

rua

É,
as coisas muito boas vão embora mais cedo
a maldade é flor de uma menina
a quem você devota
a quem você dedica
a quem você confia o gozo
a quem você ensina a viver
pensando você pensando em você

ela, o dia torto de um inverno inteiro ao vento morno
ela, a esperança desespera e o futuro fica a cada vez menor

cigarras cantam à correnteza
sua menina não vem lhe ver
para beijar os pés mordidos pelo chão
você achando que o chão por ser um chão
dormia

e você chegava cada vez mais perto
de um lugar bonito de se crer
pensando em você
feliz toda manhã

as coisas muito boas vão embora mais cedo
você cai no mundo do estranho

com muitas mentiras a dizer
quem a você devota
quem a você dedica
quem a você confia o gozo
quem a você ensina a viver
pensando em você
feliz toda manhã.


doabsurdo.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

oprovisório

"Tudo o que é do domínio afetivo reclama o absoluto. O filho quer a mãe por toda a vida, os amantes querem se amar e serem amados por toda a vida, tudo em nós pede o definitivo enquanto que a vida nos ensina o provisório. O verdadeiro dilaceramento reside na necessidade de aceitarmos o provisório para sobrevivermos."

- François Truffaut
  (1988)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

man-oé


Me abandonaram sobre as pedras infinitamente nu, e meu canto.
Meu canto reboja.
Não tem margens a palavra. Sapo é nuvem neste invento.
Minha voz é úmida como restos de comida.
A hera veste meus princípios e meus óculos.
Só sei por emanações por aderência por incrustações.
O que sou de parede os caramujos sagram.
A uma pedrada de mim é o limbo.
Nos monturos do poema os urubus me farreiam.
Estrela é que é o meu penacho!
Sou fuga para flauta e pedra doce.
A poesia me desbrava.
Com águas me alinhavo.


Manoel de Barros

apalavra

-

Já não quero dicionários
consultados em vão.
Quero só a palavra
que nunca estará neles
nem se pode inventar.

Que resumiria o mundo
e o substituiria.
Mais sol do que o sol,
dentro da qual vivêssemos
todos em comunhão,
mudos,
saboreando-a.

- C.D. de Andrade

terça-feira, 18 de novembro de 2014

paneló



Tudo o que acontece, acontece.
Tudo o que, ao acontecer,
faz com que outra coisa aconteça,
faz com que outra coisa aconteça.
Tudo o que, ao acontecer, faz com que ela mesma
aconteça de novo, acontece de novo.
Isso, contudo, não acontece necessariamente em ordem cronológica.
Douglas Adams,


[se fosse, tu;
um som - seria um belo dum'
samba de raiz.
mas
pra dizer da beleza de teus olhos'
samba ninhum']

---

pudesse'eu

-
Pudesse eu nada ser, não possuir qualquer razão,
Que mesmo assim dar-te-ia todo o meu coração...
Porque amar-te é conhecer-me, para além de tudo o que vejo,
De tudo o que digo - não dizendo,
De tudo o que tenho no meu olhar e…
Que só tu sabes ver..."

andresousa

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

alma selvagem'

"O universo da educação e do trabalho sempre teve a impressão de que o tempo que passamos sendo só nós mesmos é improdutivo, quando na realidade ele é o mais fecundo de todos. É a alma selvagem que canaliza as idéias para nossa imaginação, diante do que nós as examinamos para descobrir quais iremos implementar, quais são as mais práticas e produtivas. É o intercâmbio com a alma que nos faz refulgir com o espírito, que nos dispõe e afirmar nossos talentos, quaisquer que eles sejam. É essa união breve, até mesmo instantânea, porém intencional, que nos estimula a viver nossa vida interior, de tal forma que, em vez de enterrá-la na introversão da vergonha, no medo de retaliação ou de ataque, na letargia, na acomodação ou em outras racionalizações e pretextos cerceadores, nós permitimos que nossa vida interior tremule, cintile, arda a céu aberto para que todos vejam".

Mulheres que Correm com os Lobos,
Clarissa Pinkola Estés


nuno


Às vezes é um insecto que faz disparar o alarme
um zumbido que detona o coração.

Às vezes é uma vírgula que tomba na frase
uma cabeça que desaba num ombro qualquer.

Costa S.


quarta-feira, 5 de novembro de 2014

fp.

-
Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana.
Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.

F. Pessoa

- A maioria pensa com a sensibilidade, e eu sinto com o pensamento.
Para o homem vulgar, sentir é viver e pensar é saber viver. Para mim, pensar é viver e sentir não é mais que o alimento de pensar.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

alto-mar por você


A cada pirueta que você dá
um tom de violeta
inunda o seu bailar
fico encantado ao vê-la voar
em seu grand-jeté
como eu queria ser o seu par
queria o meu destino
junto ao seu dom
e o estilo manuelino
no que tem de bom
pra erigir um belo altar
na intenção de entronizá-la
no lugar de uma deusa
sou um barco navegando
alto-mar por você
a me desbravar sem medo
com um desejo incontido
invadindo a canção
crepuscular estação
do amor não correspondido
tal como o sol
no arrebol
eu morro com vida
plié aqui
jeté ali
socorro, querida

quero viver
só pra você
de hoje
pra sempre.


Bailarina,
Dja - van

jcDmeloneto

O relógio -

Ao redor da vida do homem
há certas caixas de vidro,
dentro das quais, como em jaula,
se ouve palpitar um bicho.

Se são jaulas não é certo;
mais perto estão das gaiolas
ao menos, pelo tamanho
e quadradiço de forma.

Umas vezes, tais gaiolas
vão penduradas nos muros;
outras vezes, mais privadas,
vão num bolso, num dos pulsos.

Mas onde esteja: a gaiola
será de pássaro ou pássara:
é alada a palpitação,
a saltação que ela guarda;

e de pássaro cantor,
não pássaro de plumagem:
pois delas se emite um canto
de uma tal continuidade.


- João C. de MN

deholanda


[...] Que a saudade é o pior tormento -

"Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Que é pra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem
E também pra me perpetuar em tua escrava"


- Chico B.

domingo, 2 de novembro de 2014

hreis

[...] E eu acho que já estourei minha cota de poesia. [...]
- Eu percebo que estourei minha cota de juízo -

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

E Hughes G


[...] O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. Nem uma culpa como nos fez crer a religião. O corpo é uma festa.[...]

Eduardo G.

-

 "A memória guardará o que vale a pena. A memória sabe de mim mais que eu; e ela não perde o que merece ser salvo"


-
Serendipity

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

ósos

-

Em minhas madrugadas de sono ela aparece.
Tuas mãos de fazer um sexo-segredo, sem que o resto do corpo saiba.
Me convidam. Fazemos dos compridos fios de moralidade, um coque.
Para que não limite nossas piruetas
E deixe livre sua liberdade
De ser mulher
De ser poeta
De ser balle
t
Na ponta dos pés, surge, tal como desaparece.
E espero minutos-infinitos até teu próximo ato.
“Já reparou que a gente nunca se viu ?”
Apenas te leio, aqui, dentro dessa caixinha sem música.
Que abro vez em quando pra fugir do mundo,
Em minhas madrugadas de sono, sem sono.
E pra assistir teu espetáculo.
De ser apenas quem se é.
Me mostrando os fragmentos de ti.
Só para me testar.
Os calos que a vida te deixou,
Te fazem se calar.
Eu que nada mais tenho a temer.
Me desnudo.
E te convido, pegando pela mão,
A caminhar-bailar comigo,
sem roupa,
Na orla do mundo,
No palco do cotidiano,

Iluminados pelo luar,
Onde enfim poderemos nos enxergar de verdade...

-

Sobre a bailarina da poesia de rua

terça-feira, 28 de outubro de 2014

amnesia

Na primeira vez que os teus olhos buscaram os meus, assumo: usei de todas as minhas forças para não olhar em outra direção. Poderia culpar um momento de timidez, um cisco, o celular que vibrava ou o carro que passava, mas estaria mentindo.  Eles se mostraram coloridos demais para mim. Como eu, que trago órbitas castanhas e imutáveis, lidar com uma vista que, a depender do ângulo e do Sol, viaja para tons verdes e azuis?
Na segunda vez que você me deu boa noite, horas depois da primeira, reparei que seu cabelo era cor de abóbora, e meus pés quase me imploraram para ir embora.

Sem aviso prévio você decidiu pintar, sorriso após sorriso, o colorido em mim – e em todo o resto. Demorei para me acostumar com tuas cores, como alguém que sai do escuro e se encontra num oceano de luz.


Teu beijo tem gosto de amarelo, e amarelo nem gosto tem. Tua pele cheira violeta e teus sussurros sempre me alcançam em um tom de vermelho.
E ainda que eu tenha conseguido explicar cada nuance tua em cores específicas, nunca serei capaz de dizer qual predominou quando você rodou a saia e me puxou para dançar contigo, naquela primeira noite. Naquele momento você foi egoísta, narcisista, decidindo que queria todas as cores do universo para (e em) você, sem dar espaço e lugar pra mais ninguém. Naquele momento você foi o arco-íris mais bonito da minha existência.

Perto de você eu perdi o dom de escrever. As palavras deixaram de ser tão bonitas; tornaram-se um conjunto de traços e rabiscos que, apesar de todo o esforço, não passam de uma tentativa falha de explicar todo o colorido que é você. Quando tua silhueta desaparece pela porta do meu apartamento, consigo bater em algumas teclas e formar alguns parágrafos coesos e firmes. Basta o seu retorno, porém, para que eu consiga ver beleza apenas nas formas das tuas cores – e nas cores daquilo que você me trouxe.
Parte desse encanto se faz presente porque você não anunciou tua chegada – e nunca anuncia tua saída. Assim como não esperava por você, não espero que fique. Enquanto você dorme – e eu traio cada tom seu com essas combinações de letras, consigo imaginar tua partida: sem fazer muito barulho, sem causar nenhum alarde, silenciosa e colorida. Você há de ir embora, como tudo que é bom há de terminar – apenas para que outra coisa melhor possa começar. Só espero que, quando for, deixe tudo colorido. Assim, quando outros olhos verdes cruzarem os meus, não hesitarei por um instante sequer em desviar a vista.



Lucas Baranyi
A garota arco-íris

-

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

infinita-ela

[...] Acho que ninguém nunca saberá seu nome, mas nunca esquecerá da cor dos seus olhos nos dias de sol [...]
 
 H. Rodrigues

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

oslírios'


"Deu a mão a Olívia para a ajudar a erguer-se. Ao contacto daquela epiderme quente, teve um estremecimento agradável. E quando, lado a lado, desceram as escadas devagar, ele sentiu como nunca que estava perto de um ser humano, de alguém que era, que existia, de maneira profunda, integral, que não constituía apenas uma soma de vaidades, de atitudes, de desejos de parece"

É. Veríssimo,

ese?

-
“E, se não fôssemos nós, pontais ao crepúsculo, vagarosos caminhantes dos prados do luar, como iria a noite – suas estrelas acendidas, suas esgarçadas nuvens, seu manto de negrume – como iria ela, perdida e solitária, acertar os caminhos tortuosos dessa cidade de becos e ladeiras? Em cada ladeira um ebó, em cada esquina um mistério, em cada coração noturno grito de súplica, uma pena de amor, gosto de fome nas bocas de silêncio, e Exu solto na perigosa hora das encruzilhadas”


Jorge Amado,
Pastores da Noite.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

neru


Por mim, gosto dos grandes vinhos, do amor, dos sofrimentos e dos livros como consolo para a inevitável solidão. Tenho até certo desprezo pela cultura como interpretação das coisas, me parece melhor um conhecimento sem antecedentes, uma absorção física do mundo, apesar de e contra nós mesmos. A história, os problemas “do conhecimento”, como são chamados, me parecem despojados de dimensão. Quantos deles encheriam o vazio? Cada vez vejo menos ideias ao meu redor, e mais corpos, sol, suor.


                                                                                                       -   in Confesso que Vivi

terça-feira, 14 de outubro de 2014

ah, carlos


"Abriu-se em calma pura, e convidando quantos sentidos e intuições restavam a quem de os ter usado os já perdera e nem desejaria recobrá-los, se em vão e para sempre repetimos os mesmos sem roteiro tristes périplos, convidando-os a todos, em corte, a se aplicarem sobre o pasto inédito da natureza mítica das coisas”

A Máquina do Mundo
CDA

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

quinnda

-

Quando olhaste bem nos olhos meus,

E o teu olhar era de adeus.
Juro que não acreditei.
Eu te estranhei, me debrucei, sobre teu corpo,
E duvidei, e me arrastei, e te arranhei,
E me agarrei nos teus cabelos, nos teus pelos,
Teu pijama, nos teus pés, ao pé da cama,
Sem carinho, sem coberta,
No tapete atrás da porta,
Reclamei baixinho.

Dei pra maldizer o nosso lar,
Pra sujar teu nome, te humilhar,
E me vingar a qualquer preço.
Te adorando pelo avesso.
Só pra mostrar qu'inda sou tua.
Até provar qu'inda sou tua.

-

Chico B., Atrás da Porta -

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

invencioná-tica

Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.


Infâncias de Manoel de Barros

1verdade


"Mas se deixou levar por sua convicção de que os seres humanos não nascem para sempre no dia em que as mães os dão a luz, e sim que a vida os obriga outra vez e muitas vezes a se parirem a si mesmos"

G.G.M.

do amor e outros demônios

Confessou que não passava um instante sem pensar nela, que tudo o que comia tinha gosto dela, que a vida era ela a toda em toda parte, como só Deus tinha o direito e o poder de ser, e que o gozo supremo de seu coração seria morrer com ela.


Gabriel Garcia Marquez

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

//

Nossos corpos não conseguem ter paz
Em uma distância
Nossos olhos são dengosos demais
Que não se consolam, clamam fugazes
Olhos que se entregam, olhos ilegais

[...]

Eu só sei que eu quero você
Pertinho de mim
Eu, quero você dentro de mim
Eu, quero você em cima de mim

[...]

Olhos que se entregam -

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

waly s.

Criar é não se adequar à vida como ela é,
Nem tampouco se grudar às lembranças pretéritas
Que não sobrenadam mais.
Nem ancorar à beira-cais estagnado,
Nem malhar a batida bigorna à beira-mágoa.

Nascer não é antes, não é ficar a ver navios,
Nascer é depois, é nadar após se afundar e se afogar.
Braçadas e mais braçadas até perder o fôlego
(Sargaços ofegam o peito opresso),
Bombear gás do tanque de reserva localizado em algum ponto
Do corpo
E não parar de nadar,
Nem que se morra na praia antes de alcançar o mar.

Plasmar

bancos de areias, recifes de corais, ilhas, arquipélagos, baías,
espumas e salitres,
ondas e maresias.

Mar de sargaços

Nadar, nadar, nadar e inventar a viagem, o mapa,
o astrolábio de sete faces,
O zumbido dos ventos em redemunho, o leme, as velas, as cordas,

Os ferros, o júbilo e o luto.
Encasquetar-se na captura da canção que inventa Orfeu
Ou daquela outra que conduz ao mar absoluto.

Só e outros poemas
Soledades
Solitude, récif, étoile.

Através dos anéis escancarados pelos velhos horizontes
Parir,
desvelar,
desocultar novos horizontes.
Mamar o leite primevo, o colostro, da Via Láctea
E, mormente,
remar contra a maré numa canoa furada
Somente
para martelar um padrão estoico-tresloucado
De desaceitar o naufrágio.
Criar é se desacostumar do fado fixo
E ser arbitrário.


Sendo os remos imateriais.
- Remos figurados no ar pelos círculos das palavras.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

rarasflores

A arte de perder não é difícil de dominar
Tantas coisas parecem cheias da intenção de serem perdidas
Que sua perda não é um desastre.
Perca alguma coisa todos os dias
Aceite o contra-tempo de perder as chaves da porta
A hora gasta inútilmente.
A arte de perder não é difícil de dominar.
Depois, pratique perder mais, perder mais rápido
Lugares, nomes, situações….tantas coisas
Eu perdi duas cidades, dois rios, um continente
Eu os perdi, mas não foi um desastre.
Até mesmo perder você, a voz brincalhona
aquele gesto que eu adoro
Eu não terei mentido, é evidente
A arte de perder não é difícil de dominar
embora sempre continue parecendo um desastre.


E. Bishop;

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

verbal-life

no avesso do dia,
lídice apontou o indicador
e desenha sobre a pele
como tatuagem,
um totem para seu libelo:
ama e ao mesmo tempo
       disfarça
       esquece
       esconde-se
       divaga
       declina
       e cala-se
seu archanjo guarda nos olhos
seis âncoras
e lança uma garrafa com sete linhas ao centro:
   disfarce é a neblina do sujeito
que esquece
esconde
divaga
declina
e permanece calado
   amor é  predicado
Ehre

ah, jão

Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o lugar. Viver é muito perigoso...
Sertão: estes seus vazios.


João Guimarães Rosa

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Il vient'

L'amour est enfant de boheme
Il n'a jamais jamais connu de lois

L'un parle bien, l'autre se tait
Et c'est l'autre que je prefere
Il n'a rien dit [...]

Prends garde a toi, Carmen.

e.morin


Não há uma pegada no meu caminho que não passe pelo caminho do outro;

"O amor é poesia. Um amor nascente inunda o mundo de poesia, um amor duradouro irriga de poesia a vida cotidiana, o fim do amor devolve-nos a prosa"

- Na arte que o homem se ultrapassa definitivamente [...]




terça-feira, 5 de agosto de 2014

ner-ú


Depois de tudo te amarei
como se fosse sempre antes
como se de tanto esperar
sem que te visse nem chegasses
estivesses eternamente
respirando perto de mim


Pablo N.

domingo, 3 de agosto de 2014

comeu'

"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato
O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço
O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome
O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas, 
O amor comeu metros e metros de gravatas
O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus
O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos
O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão
Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte"

Dos três mal amados;
Cordel do Fogo Encantado.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

tiempo, no sé

"Si el amor, como todo, es cuestión de palabras, acercarme a tu cuerpo fue crear un idioma"

Mantido em isolamento até o fim dos dias,
- portador de poesia.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

1bkw

"Finjo entender, porque não quero magoar ninguém. Este é o único ponto fraco que tem me levado à maioria das encrencas. Tentando ser bom com os outros, muitas vezes tenho a alma reduzida a uma espécie de pasta espiritual. Deixa pra lá. Meu cérebro se tranca. Eu escuto. Eu respondo. E eles são burros demais para perceber que não estou mais ali."

Velho, Charles B.

§

-
Quando me disseste que não mais me amavas,
e que ias partir,
dura, precisa, bela e inabalável,
com a impassibilidade de um executor,
dilatou-se em mim o pavor das cavernas vazias…
Mas olhei-te bem nos olhos,
belos como o veludo das lagartas verdes,
e porque já houvesse lágrimas nos meus olhos,
tive pena de ti, de mim, de todos,
e me ri
da inutilidade das torturas predestinadas,
guardadas para nós, desde a treva das épocas,
quando a inexperiência dos Deuses
ainda não criara o mundo…

Guimarães Rosa

terça-feira, 29 de julho de 2014

retórica -



- E o meu, poesia de cego [...]

a.dos-anjos

Sofro aceleradíssimas pancadas
No coração. Ataca-me a existência
A mortificadora coalescência
Das desgraças humanas congregadas!

Em alucinatórias cavalgadas,
Eu sinto, então, sondando-me a consciência
A ultra-inquisitorial clarividência
De todas as neuronas acordadas!

Quanto me dói no cérebro esta sonda!
Ah! Certamente eu sou a mais hedionda
Generalização do Desconforto...

Eu sou aquele que ficou sozinho
Cantando sobre os ossos do caminho
A poesia de tudo quanto é morto!


O Poeta do Hediondo

quinta-feira, 24 de julho de 2014

vilarsuass

Nesta terra da saúde que o cabra põe doente, onde morre tanta gente e a vileza nunca para, mulher apanha na cara e homem faz o que quer, um rei meio quixote, meio doutor, desceu da realeza pra ver de perto a pobreza, sentir toda a sua dor. E pra ajudar seu povo de um a um, tirou a coroa e saiu à toa, vestido de pessoa comum.
Andando pra todo lado, de jeito santo e letrado, o rei feito andarilho viu o mundo, desceu ao fundo, cada pai e cada filho e cada mãe, ouviu o velho, ouviu o novo com paciência, gente de toda idade, pra entender de verdade a querência de seu povo.
E de tudo o que ele via, dedicado em seu trajeto, o rei fez poesia de encantar o mais abjeto. Nessa vida da gente modesta, com o povo fez sua festa. Aprendeu de tudo que não imaginava, e no trono já nem pensava.
Os anos foram passando, e o rei foi aqui ficando. Trabalhava feito louco, fez de tudo um pouco. Fez livros, fez peças, fez gravuras, fez amigos e inimigos, fez afetos gentis e desafetos imbecis. Foi advogado de profissão, professor, acadêmico, usou fardão! Fez filhos? Não. Fez uma prole! Só não fez foi corpo mole, que a vida anda dureza e não assente mera esperteza.
Pra oferecer conhecimento, ele não tinha lugar e não tinha hora. E até Nossa Senhora, precisada de opinião, o rei daqui mandou chamar. Lá foi ele dessa feita, as mãos juntas em oração, perguntar à Mãe Perfeita, se lhe cabia colaboração.
Tenho cá umas pendências, coisa de todo dia, respondeu a Virgem Maria. E você, cheio de experiências, pode muito me ajudar.
Então o rei voltou à terra, dar adeus, até logo aos seus. Mas seguro, de olhar firme, garantiu: ninguém se avexe, viu? Isso não é partida. Vou ali com a Compadecida olhar de perto para os meus.
Juntou suas coisas, seus livros e lembranças num gibão, montou seu cavalo de olhar esverdeado e cavalgou enluarado, até depois da imensidão.

E você, boa gente, leve essa história à frente. Mas se alguém quiser saber, curioso, gritando “como foi? Conta pra mim!”, você responda simplesmente:


“Não sei. Só sei que foi assim”.

oxente'


"Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa"
Ariano Suass-una,

terça-feira, 22 de julho de 2014

soldadodechumbo


Senti que o tempo é apenas um fio. Nesse fio vão sendo enfiadas todas as experiências de beleza e de amor por que passamos. Aquilo que a memória amou fica eterno[...] - [...] Há momentos efêmeros que justificam toda uma vida.

"A imaginação é o lugar onde as coisas que não existem, existem."

Rubem Alves, Fragmentos dele
Pedaços meus.


sexta-feira, 18 de julho de 2014

RJ1938


Longe dos pescadores os rios infindáveis vão morrendo de sede lentamente...
Eles foram vistos caminhando de noite para o amor — oh, a mulher amada é como a fonte!

A mulher amada é como o pensamento do filósofo sofrendo
A mulher amada é como o lago dormindo no cerro perdido
Mas quem é essa misteriosa que é como um círio crepitando no peito?
Essa que tem olhos, lábios e dedos dentro da forma inexistente?

Pelo trigo a nascer nas campinas de sol a terra amorosa elevou a face pálida dos lírios
E os lavradores foram se mudando em príncipes de mãos finas e rostos transfigurados...

Oh, a mulher amada é como a onda sozinha correndo distante das praias Pousada no fundo estará a estrela, e mais além.


- Vinicius, M.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

pedraderio

Os poetas místicos são filósofos doentes, 
E os filósofos são homens doidos.
Porque os poetas místicos dizem que as flores sentem
E dizem que as pedras têm alma
E que os rios têm êxtases ao luar.
Mas as flores, se sentissem, não eram flores,
Eram gente;
E se as pedras tivessem alma, eram coisas vivas, não eram pedras;
E se os rios tivessem êxtases ao luar,
Os rios seriam homens doentes.”

Litera-tortura, F. Pessoa - Alberto, C.

semsen-tido


[...]

"Porque o único sentido oculto das coisas
É elas não terem sentido oculto nenhum.
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender"

Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: -
As coisas não têm significação: têm existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas.

A. Caei-ro

domingo, 13 de julho de 2014

o

_
Cão Planetário Branco

Eu aperfeiçoo com o fim de amar
Produzindo a lealdade
Selo o processo do coração
Com o tom planetário da manifestação
Eu sou guiado pelo poder do infinito
_

"O guardião do meu coração me pede para brincar com ordem e perfeição."

quarta-feira, 9 de julho de 2014

a-festa, mariaR.

"Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios"


[...]por mais que eu os quisesse intermináveis -[...]

ah,
Capitu.

sexta-feira, 4 de julho de 2014


Tu pupila es azul, y cuando ríes
Su claridad suave me recuerda
El trémulo fulgor de la mañana
Que en el mar se refleja.

Tu pupila es azul y cuando lloras
Las transparentes lágrimas en ella
Se me figuran gotas de rocío
Sobre una violeta.

Tu pupila es azul y si en el fondo
Como un punto de luz radia una idea,
Me parece en el cielo de la tarde
Una perdida estrella.



¿Qué Es Poesía?

¿Qué es poesía?, dices mientras clavas
En mi pupila tu pupila azul.
¡Qué es poesía! ¿Y tú me lo preguntas?
Poesía eres tú.

Gustavo Adolfo Bécquer -

[...] - [...]
 Eu agora, – que desfecho!
Já nem penso mais em ti…
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
 
- Mário Quintana, - Do Amoroso esquecimento

quinta-feira, 3 de julho de 2014

terça-feira, 17 de junho de 2014

henri bu-k


"Desastre poético,
Pássaro - azul na garrafa.
Mais uma dose"


Quem faz um poema abre uma janela; salva um afogado'

segunda-feira, 9 de junho de 2014

terça-feira, 3 de junho de 2014

1fingidor

"É verdade que eu não saberia viver sem a paixão; mas é verdade também que são tão poderosas suas forças na minha alma, que o seu tumulto me mata. Todas as paixões me pervertem. Todas as paixões me convertem. Sobrevivo pela graça de ser poeta"


Lúcio Cardoso,

segunda-feira, 2 de junho de 2014

só tem saída pra dentro -

"Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições.
A inércia é meu ato principal.
Não saio de dentro de mim nem pra pescar."

Manoel de Barros,  -

quinta-feira, 29 de maio de 2014

ar[re]pi - o

"Quando te vi amei-te já muito antes.
Tornei a achar-te quando te encontrei.
Nasci pra ti antes de haver o mundo.
Não há cousa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que o não fosse porque te previa,
Porque dormias nela tu futuro"

Fernando Pessoa - sobre el verbo'

quarta-feira, 28 de maio de 2014

-

Ela era branca, branca
Dessa brancura que não se usa mais
Mas sua alma era furta-cor

Mario Quintana

enetil'

[...] No dia seguinte, ele acordou sozinho, mas saiu da cama sem fazer alarde e escovou os dentes abrindo pouco a torneira, pra não fazer barulho [...]
A gente acha que pode determinar onde e quando vão ser as despedidas definitivas, que vamos conseguir tornar esses momentos destacáveis, que vamos ser capazes de colocar neles um ritual, mas não.

O último adeus sempre vem como as coisas mais importantes da vida, absolutamente sem aviso.

[...]

O Ritual das despedidas - Papo de H.

ar-g



"Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros, ou por onde for"

segunda-feira, 26 de maio de 2014

a tregua'

"Do quarto, ela me chamou. Ela havia se levantado, assim, envolta na colcha, e estava junto à janela, olhando a chuva. Aproximei-me, também olhei como chovia, por um instante não dissemos nada. De repente, tive a consciência de que esse momento, de que esse pedaço de cotidianidade, era o grau máximo do bem-estar, era a Felicidade. Nunca havia sido tão plenamente feliz como nesse momento, mas tinha a sensação dilacerante de que nunca mais voltaria a sê-lo, ao menos nesse grau, com essa intensidade. O cume é assim, claro que é assim. Além disso, estou certo de que o cume dura apenas um segundo, um breve segundo, uma centelha instantânea e sem direito à prorrogação"

[...] Ela me dava a mão e então nada mais faltava. Bastava para que eu me sentisse bem acolhido. Mais que beijá-la, mais que dormirmos juntos, mais que qualquer outra coisa, ela me dava a mão e isso era o amor.[...]


 - Mario Benedetti, 

segunda-feira, 14 de abril de 2014

'#

“A cor da pele [...] tem a brancura de lírio das heroínas dos romances antigos, um lírio branco profundo, camadas de branco superpostas, um abismo de alvura sem fundo”.
-  Rubem Fonseca

nonpalidece



"Y acerco con la imaginación
de flores tu partida
tanta es la pasión
hasta de los que te tienen envidia
en tus ojos descansa el don"

- Entre el suelo y el celo donde nadie nos ve,
entre el suelo y el cielo ahí vamos nosotros flotando en el aire [...]


sexta-feira, 28 de março de 2014

trovador solitario

Clareia manhã
O sol vai esconder a clara estrela
Ardente, pérola do céu refletindo teus olhos
A luz do dia a contemplar seu corpo
Sedento, louco de prazer e desejos
Ardente 

Nascente, B. Guedes -

segunda-feira, 24 de março de 2014

pois'zé


e, "o analista indicou-lhe começar a beber consigo"

pobre O.

Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.

 - Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo -

E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;

E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.


- Ao coração que sofre -
O. Bilac -

sexta-feira, 21 de março de 2014

'

"Se eu gosto de poesia? Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor. Acho que a poesia está contida nisso tudo."
- Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 19 de março de 2014

a mesma

"Paris, outono de 73
Estou no nosso bar mais uma vez
E escrevo pra dizer
Que é a mesma taça e a mesma luz
Brilhando no champanhe em vários tons azuis
No espelho em frente eu sou mais um freguês
Um homem que já foi feliz, talvez
E vejo que em seu rosto correm lágrimas de dor
Saudades, certamente, de algum grande amor
Mas ao vê-lo assim tão triste e só
Sou eu que estou chorando
Lágrimas iguais
É, a vida é assim, o tempo passa
E fica relembrando
Canções do amor demais
Sim, será mais um, mais um qualquer
Que vem de vez em quando
E olha para trás
É, existe sempre uma mulher
Pra se ficar pensando
Nem sei, nem lembro mais"

-

- A carta que não foi mandada -
Vinicius de Moraes -

terça-feira, 18 de março de 2014

des-propósitos

"Pensei, em correr, bater à porta dela, suplicar, mandar
flores, esperar. Nem dá pra repensar. E o barulho irritante que anuncia o dia. O
silêncio era só meu e era tudo. Por entre as cortinas que já foram amarelas, que
já viram todas as cores, só se via névoa e sujeira da chuva. A chuva parou, pelo
menos. Definitivamente não estava lá. Só as roupas no chão, o cheiro no ar e a
voz que ainda rondava o apartamento. Já não libidinoso, já não libertino. Só
fantasmagórico. E os lençóis desarrumados sobre a cama. O travesseiro como
companhia, ombro amigo, grande amor. E o que restou do silêncio. Não estava
mais lá.
Bom, bom... Fique, sonho bom, não deixe que te roube. Que te arraste
só pela voz. Ainda existe o que sonhar, talvez.
Insone - não por querer - sento, esquecido, em algum lugar, cinco
minutos antes de acordar. E saio, e entro, e abro, e giro e deixo que chova,
chova, chova, chova, chova. Pelo corpo, pelo cabelo, pelo pouco de alma que
escorre dos dedos, pela voz que geme em meus ouvidos. E que deixo invadir.
Pelo menos até o fim da espuma.
Cabeça dói, talvez seja um sinal. Costume de autoiludir.
Tal qual sonho em manhã nublada. Sonho que morreu no tempo. Foi
uma palavra ríspida, uma ironia, às costas, às costas. Ruim.
Os lugares, a caçada, a sala de espera. Seria tão menos solitário. Ainda
tem as chaves desde aquela terceira segunda noite, quando invadiu minha
cama.
Desde que a cama esvaziou, todos, todos são tão reticentes. E eu,
reticências. E pensamos em entregar os pontos.
Era hora de voltar"


Daniel C - Tristes C

sexta-feira, 14 de março de 2014

terça-feira, 11 de março de 2014

espaço'

"Lembrou-se de todas as vezes que pra você ela se despia das roupas, das máscaras de pepino, das coisas que ela dizia pra se defender. E ela remoía todas as vezes que se entregou por inteiro e você sempre sendo metade. Ela não conseguia lembrar o motivo que a levara a fazer isso, mas ela tava ali dessa vez, jurava, pra te dizer que nunca foi bem assim que ela te quis -
[Clarice A.]
[...] Meus olhos se fecham e repetem, repetem aqueles minutos de fim [...]

E eu penso, enterrada na minha mania de manter a esperança nos momentos mais impróprios, que sei ler nas entrelinhas. Que talvez você tenha me escolhido. Que vai me fazer uma proposta obscenamente linda e me oferecerá dias numa cabana caindo aos pedaços, passeios bêbados na praia, horas de companhia silenciosa"

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

cazú

Preto no branco
Amarelo, um pouco de azul
Noite estrelada
Peito feliz
Olho no olho
Pintura a quatro mãos
Tintas claras
O mesmo cigarro
Isso é amor
Amor quente
Água de coco pra dois
Porta do carro aberta
Vento morno da areia
Palavras mentirosas
Isso é amor
Amor quente
Cama de casal
Luz bem baixinha pra ver
Gemidos de dor e alegria
Sair de si por três minutos
Isso é amor
Amor quente
Supermercado, escolher iogurte
Fazer compras juntas
Brigar por besteira
Isso é amor
Amor quente
Tomar café, banho, brisa
Champanhe, tristeza, beleza
Cremes, músicas, sucos, água
Drogas, fumo, passar perfume
Isso é amor
Amor quente

 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

aquar - ela

Você não entende, mas eu peço abrigo. Um abrigo bem claro, bem na minha frente, que dissipe frio ou incômodo qualquer.
[...] Eu não peço esmola, eu peço abrigo afetivo de verdade. Queria mesmo é que você parasse pra perguntar como foi o meu dia. Foi bom, tô bem, eu digo. Bom e bem são sinônimos de toda crise interna que a gente não consegue afugentar[...]
Te levaria prum quarto parado numa estrada qualquer pra te devorar. Ouviria as suas histórias e te pintaria nos meus escritos. Esboçaria um pouco dos teus olhos e das olheiras, que é pra te dar um ar humano, e reconheceria suas falhas no papel [...] Me pinta em aquarela pra me dar vida [...]

Bem e bom são sinônimos de um apocalipse pessoal -

Você não me conhece, mas eu suponho que poderíamos ser amantes. Ou amadores. Sempre achei que todo amante tivesse algo de amador - Poderíamos também ser amigos!
Eu te mandaria postais e a gente viveria nessa espera ansiosa de receber respostas. Promete pra mim que me escreve? Descreve, me escreve no papel, me rabisca um pouco pra eu sentir que não sou imaginado no mundo [...]

[...] - Só vem - cidade perdida - confusão - dois cigarros na rua e pensamentos que cortam -
Não me deixa viver essa coisa que não me deixa ver todas as coisas boas que os seus olhos castanhos contam - [..]



Dani B. - jornalista de comportamento a portas fechadas  -

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

velho

- "Vou lembrar de sua pequena sala, a sensação de você, a luz na janela, suas recordações, seus livros, o nosso café da manhã, a nossa tardes, nossas noites, nossos corpos derramados juntos dormindo, as pequenas correntes que fluem, imediatas e para sempre, sua perna na minha perna, seu braço no meu braço, o seu sorriso e o seu calor que me fizeram rir de novo." -

[...] em meu coração tem um pássaro
que quer sair
mas eu sou mais forte que ele,
eu falo, fica aí dentro, eu não vou
deixar ninguém
te ver."

Bukowski

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

- *


"Então me ocorreu que, apesar de sermos companheiras de viagem maravilhosas, no fundo não passávamos de duas massas solitárias de metal em suas próprias órbitas separadas. A distância, parecem belas estrelas cadentes, mas na realidade, não passam de prisões, em que cada uma de nós está trancada, sozinha, indo a lugar nenhum. Quando as órbitas desses dois satélites se cruzam, acidentalmente, podemos estar juntas. Talvez, até mesmo, abrir nossos corações uma à outra. Mas, só por um breve momento. No instante seguinte, estaremos na solidão absoluta."

- Minha Querida Sputinik' - 

ele mesmo/1


- Um número primo é inerentemente solitário: só pode ser divido por si próprio ou por um, nunca se adaptanto aos outros. Alice e Mattia também, vivendo em torno do seu próprio eixo, sozinhos com as suas respectivas tragédias -

“Mattia tinha estudado que entre os números primos existem alguns ainda mais especiais. Os matemáticos os chamam de primos gêmeos: são casais de números primos que estão lado a lado, ou melhor, quase vizinhos, porque entre eles sempre há um número par, que os impede de tocar-se verdadeiramente. Mattia achava que ele e Alice eram assim, dois primos gêmeos sós e perdidos, próximos, mas não o bastante para se tocar de verdade”.

A Solidão dos Números Primos - Paolo Giordano

.

d-correa

"E são jeans, histórias, camelos e cervejas nunca bebidas que me trouxeram 
a única pessoa que sabe viver, ler, entender e interpretar todos os traumas da vida e 
ainda assim me fazer rir de todos eles e esquecer de mim, do mundo, da música que 
ainda soa nos meus ouvidos, que me fez escrever sobre os sorrisos que não mais vi e 
do espelho que ainda me diz o que fazer.
Os camelos que vivem em Gabriela viraram arte, o Daniel que vive com 
Gabriela virou parte.
Da alma, dos sorrisos, da vida que se vive, que sonha.
E não se perde, não perca, amigo, nas curvas e nas palavras tortas que 
ainda virão, se encontre que assim me encontrarei também.
A vida que não se vive é uma mentira. Ela vive e respira.
E não é vão"
 
 
 
 - Poesia na Virilha, Olhos Cinzas ou Quarenta Andares

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

teusolhos'

Um olhar profundo – ainda que breve – tem o poder quase que sobrenatural de interromper a ação do tempo, num daqueles momentos líricos, onde uma ponte se ergue entre os olhos recém-descobertos, conectando-os e congelando tudo ao redor.
A maioria das pessoas sorri com a boca, mas os verdadeiramente afortunados sorriem também com os olhos – e consequentemente com a alma. Estes, especiais que são, costumam ser responsáveis por instantes inesquecíveis na vida daqueles que cruzam os teus caminhos.
Olhares independem de lugares, nos encantamos em filas de banco, sinais fechados, pontos de ônibus e supermercados. Mesas de bar, então, são terrenos propícios para encontros oculares, sejam eles dispersos, diretos ou subliminares.
Pelas esquinas das cidades carentes de atenção, somos salvos – de tempos em tempos – por pontuais demonstrações de ternura, vindas de retinas desconhecidas, tão doces meninas dos olhos. E entre olhares dispostos a conjugarem temores expostos, partimos diariamente em busca de afagos simultâneos e abrigos silenciosos, que nos livrem – mesmo que momentaneamente – das angústias do caos cotidiano.


Dos olhares diários - Fellipo R. - cinco coisas'

Niet

Não há amor e bondade suficientes no mundo, para que ainda se possa oferecê-los a seres imaginários. 

- Humano demasiadamente humano.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

**/


gabito n.


"De todas as coisas que ouvi falarem sobre o amor, nenhuma admitia meia entrega. Ninguém meio que ama, ninguém meio que se entrega. Amar é desfazer-se de si, de fato. É tolice ter pavor de sair do chão receando retornar ao mesmo lugar de partida, um dia.
Aviso: encontrar alguém não significa dar fim à sua busca, dizimar seus problemas. Com o amor outros virão, troca-se apenas de pendengas, vão-se os amargos e os azedos, vêm os salgados ou os demasiado doces. A cabeça entende quando é a alma quem implora baixinho.
Permita, não há outro jeito. Do contrário, não interromperá essa ciranda deprimente de gastar o que não tem, com programas e coisas de que não precisa, para agradar a pessoas que você não ama e não te amam de volta. Te vejo aqui do alto, sentado numa nuvem equivalente ao ponto maior que uma doce entrega pode propiciar. Não vou enganar ninguém. Amar dói, mas nem sempre é igual. Na maioria dos dias, ele não queima, aquece, simplesmente.
Você só precisa escolher entre uma estrada e outra. Se o amor é clichê, a falta dele é lugar comum e viver é um abastado chavão de mau gosto. É preciso parar de soprar a chama que te faz brilhar mesmo em dias nublados, cantar alto nos eventos mais inadequados, provocar sorrisos bobos facilmente confundidos com engasgos. Você precisa parar com essa neurose de não querer saber a verdade, preocupada em não se machucar.
Talvez essa seja a maior besteira que já tenha dito, mas, garanto a você, existem pares de muito mais infelizes do que eu, todos assim como você, brincando de casinha, caçando paixão, simulando alegrias. Já tracei meu caminho faz tempo: mais vale fracassar vivendo as coisas do meu jeito do que vencer anulado, desfigurado, morto. Não entendo – ou não quero – esse medo de amar e ser feliz. É como atravessar o rio remando, num barco a motor.
Então, meu amor, estendo minha mão, morrendo de medo igualmente, sem levar nada tão a sério, ignorando toda vã filosofia de explicar sensações. Estou aqui no chão por você. Desci, para mais tarde te acompanhar na subida. Venha preencher e pintar minha vida de caos, de dilatação, equações, sorte e até algumas mágoas. Mas não há que ser agora. Bem sei que jamais guardo um nome, mas, no seu caso, fatalmente, conseguirei abrir uma exceção"


G. Nunes

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

cfa

"Além disso, ainda não havia apreendido o grande desencontro das palavras – portanto não poderia comunicar-se de maneira adulta, posto que a maneira-adulta-de-comunicar-se trata-se de um constante dizer o que não se quer, pedir o que se tem e dar o que não se possui".

O Inventário do Ir-remediável .

domingo, 2 de fevereiro de 2014

¨

Sorriso audível das folhas 
Não és mais que a brisa ali 
Se eu te olho e tu me olhas, 
Quem primeiro é que sorri? 
O primeiro a sorrir ri. 

Ri e olha de repente 
Para fins de não olhar 
Para onde nas folhas sente 
O som do vento a passar 
Tudo é vento e disfarçar. 

Mas o olhar, de estar olhando 
Onde não olha, voltou 
E estamos os dois falando 
O que se não conversou 
Isto acaba ou começou?


Sorriso audível das folhas - F.Pessoa



sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

[p;a]

Toda despedida
Uma hora
Se calça e fica
E quando ameaça
Sair de novo,
Se calcifica

Toda despedida
uma hora
se cansa e fica
fixa
grudada na sola do sapato
na gola da camisa
na mola do coração
no gozo do ato
E se demora
Até criar enjoo,
Ânsia de vou-me to-
-do.
E se lamenta:
poderia ter ficado feliz ou bem puto
poderia ter ido vivão ou de luto

Saudade é essa coisa petrificada no peito
Que amolece toda vez que a vida nos lembra:
Saudade não existe;
é medo de partir pra outra...

saudade?


[petrificada; antônio]

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

respirar você


"É por trás dos copos de uísque que se escondem verdadeiras histórias que não deram certo"

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

#


Eu não quero o teu corpo
Eu não quero a tua alma,
Eu deixarei intato o teu ser a tua pessoa inviolável
Eu quero apenas uma parte neste prazer
A parte que não te pertence

joaquim m.


É normal essa saudade do que nunca escutei?

Eu nunca te vi, te cheirei e te ouvi. Mas já te desenhei, colei o teu retrato junto ao meu e aprendi a amar esses sorrisos que vêm na minha imaginação. É dessas histórias que nunca aconteceram e que a gente sabe de cor. De coração. Quando você se afastar, eu vou guardar o teu gosto em mim. Uma pena que você não fique impregnado feito cigarro pelos meus cabelos e pelos meus tons. Nos dias nublados, vou me recordar com afeto do silêncio-tum-tum-tum-tum. E tudo volta a ser poesia.
Sim, estou com saudades das coisas que nunca vivi. Apenas porque dias nublados são sempre dias de recordações e poesia. E silêncio.

Tudo ficou meio quieto!



Ígor L. / Joaquim -

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

Sheets of empty canvas, untouched sheets of clay
Were laid spread out before me as her body once did
All five horizons revolved around her soul
As the earth to the sun
Now the air I tasted and breathed has taken a turn

black - p.jam' -

pela met-ade

Mais uma vez ele viu o relógio mudar rapidamente de 6 para 7 os minutos da quarta hora da madrugada. Apesar da quase rotina, esse hábito ainda causava um certo desconforto; parecia haver hora certa para lembrar dela. Balbuciou o palavrão de sempre, estalou os dedos e procurou os óculos no escuro. Já previa a dor nos olhos antes mesmo de acender a luz, então decidiu descer a escada no breu mesmo. Abriu metade da janela, observou a chuva por alguns minutos, lembrou das noites chuvosas ao lado dela, lembrou do vidro embaçado e da música suave das gotas atingindo-o, lembrou do edredom roxo ou violeta ou púrpura – nunca soube qual a verdadeira identidade cromática do negócio e também não levou o assunto à ela – e do cachorro dormindo embaixo da cama. Lembrou dela, do sono dela, da maneira como os olhos dela se apertavam quando ela dormia, das asas redondas do nariz, dos lábios finos convidando-o para um beijo. Lembrou do cheiro da respiração dela e respirou profundamente, como que querendo encontrar tal cheiro no ar. Falhou.
Foi acordado do sonho-acordado por uma distante sirene de polícia, andou lentamente até o fogão e aqueceu uma medida de leite. Enquanto aguardava, reparou na quase dúzia de folhas de caderno escritas e rasuradas e espalhadas na mesa numa ordem que somente ele entendia. E nessas folhas, palavras que somente ela entenderia.
Sonhou de novo, e dessa vez com os vários bilhetes que escondeu pelo quarto dela, bilhetes recheados de pequenas juras e promessas e micro-elogios que arrancariam dela aquele sorriso que só ele conhecia, bilhetes assinados pela metade, que mostravam o quão inteiro ele era com a metade dela. Acordou novamente, dessa vez com o cheiro de leite fervendo, xingou a vaca, disfarçou muito mal um sorriso, terminou de preparar o capuccino e aqueceu a garganta com goles curtos. Era normal esquecer do mundo quando se lembrava dela. Era comum.
Largou a xícara na mesa, apagou a luz e, antes de voltar à cama, viu a luz amarela e deprimida de um poste atravessar a janela e repousar na cadeira ao lado. Como previsto, sentiu o costumeiro aperto no peito e também a solidão tocar-lhe os ombros. Tudo naquela casa lembrava dois, à dois, os dois, mesmo sem nunca ter existido dois naquele espaço. Repare bem: naquele espaço. A cadeira vazia servindo de repouso para o violão, o número de talheres e pratos e copos, a mesa redonda e pequena, o box do banheiro, a cama de solteiro (para dormirem mais próximos). Sentiu o chão gelado abaixo dos pés e desejou os pés dela colados nos dele. Voltou pra cama, olhou a foto dela na tela do celular, rezou por ela e reclamou consigo mesmo, com seu próprio deus, sobre as lágrimas que se acumulavam nos cantos dos olhos contra sua vontade. Alguns minutos depois da quarta hora da madrugada, ele tirou os óculos e os deixou no chão mesmo; ela não estaria ali para pisar neles meio que por engano. E como esperado, não dormiu.


          Crônica breve sobre aquele sentimento de saudade -  Silvio F. O. Jr

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

canecadechá

Lembro bem do dia
Em que você chegou
Como quem não ia mais sair
Chá de tangerina
Velhas cartas não abertas
Sala pro chá das seis
Veio como quem vinha me carregar
Mas só tem as mãos a desenhar
Me desenha histórias que eu não caberia
Me atrevo a te inventar
Pode ser porque
Nunca mais será
Como te perder
Se nunca te achei aqui

E foi o desenho de um balão
Colorido com azul de céu
Que escondeu nas minhas malas
Entre os meus vestidos
Quando eu dizia adeus
E só me convida a passear
Mas me manda para além do mar
Me desenha um vôo

E eu espero
Mais que um amor de giz
E pode ser porque
Nunca mais será
É como te perder
Mas nunca te achei aqui
E foi o desenho de um balão

Colorido com azul de céu - azul

a desenhista - ana, -


e-nd


Há tristezas que nos paralisaram por meses, mas que hoje, passados os dias difíceis, mal guardamos lembrança de horas.
Há eventos que marcaram, e que duram para sempre.

[...]Têm a duração que nos ensina o significado da palavra “eternidade” - Já viajei para a mesma cidade uma centena de vezes, e na maioria das vezes o tempo transcorrido foi o mesmo.
Mas conforme meu espírito, houve viagem que não teve fim até hoje, como há percurso que nem me lembro de ter feito, tão feliz estava eu na ocasião.[...]

 - O relógio do coração hoje descubro, bate noutra freqüência daquele que carrego no pulso.
Marca um tempo diferente, de emoções que perduram e que mostram o verdadeiro tempo da gente - 

Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio - seguiria sempre em frente.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

o tempo, relógio do coração, ponto final
                                                                                                                   Mario Q. 

sina-is

[...] Te perco no sono depois da despedida. Já aprendi que me agarrar a escombros ou destinos fatídicos resulta em dor. Dor lancinante, daquelas dores que a gente aprende a evitar porque sentir é demais pra aguentar quando não tem alguém pra dividir. Te perco e te reencontro nos cochilos de domingo, na esperança da correspondência da caixa 45 do meu prédio, da campainha que toca inesperada e recrio você a partir de memórias [...]

E eu sinto falta. Falta é toda a companhia que eu aceito porque ela não me pergunta sobre você. Não me pergunta e não me repreende pelo desespero que era precipitado e agora se confirma. Na caixa postal vazia, na falta de conexão e na vida de quem eu não faço mais parte. 

[...] É preciso que se enxergue com as mãos, com os cheiros, com o vento que os gestos fazem no ar. Suas linhas todas me são vivas no olhomental que carrego no fundo do estômago. Não preciso de olhos se tenho olhos na ponta dos dedos, na cavidade ínfima do nariz, no espaço mesmo entre o ombro e o pescoço. Te ofereceria um buquê de rosas, ou até uma caixinha de música, mas só tenho essas palavras… o espaço dentro do corpo ficou pequeno pra tanto sentir. Mas sentir é sempre entrega. É tanto entregar-me que em mim nada mais resta. É tanto dar-se que em mim nada mais cabe. Porque o dar também implica num movimento interno. E esse movimento acaba por preencher deixando vazio. Daí só me sobram as palavras ... [...]

- disfunção ardente que não cabe em nenhum parágrafo ou coisa morta. 'Vou me sendo' enquanto ainda não sou e espero com rosas nos cabelos: embaixo da chuva -

[...] Me deparei com a constatação de que, de você, nada tenho. São só sinais de difícil compreensão ou sinais que eu tenho inventado [...]


Com solidão compartilhada como um fantasma, eu ouço ainda mais alto: eu nunca vou esquecer de você!
* Hoje eu acordei pensando nos teus sinais *

dom c.

"A imagem de Capitu ia comigo, e a minha imaginação, assim como lhe atribuíra lágrimas, há pouco, assim lhe encheu a boca de riso agora: vi-a escrever no muro, falar-me, andar à volta, com os braços no ar; ouvi distintamente o meu nome, de uma doçura que me embriagou"
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Entre o querer e a concretização existem alguns 'anos' de prática em negociação interna, confrontada com uma realidade que não barganha com pequenos príncipes.
Esses imperadores sem reino vão passar a vida inteira querendo, querendo, querendo, mas não conseguindo nada; iludidos,

dançarão o som de uma música que só toca na cabeça deles.

---   - - -a autópsia filosófica ---

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

i/i

"No momento, o estilo de vida que mais me enche os olhos é o de um hippie vendendo artesanato na praia ou de um monge em meditação numa caverna no Tibet. Eu me julgo mais inteligente que as pessoas com frequência, não por maldade ou satisfação pessoal, mas sim pelos absurdos que ouço saindo de suas bocas.

Não sei onde encontrar gente interessante que some ideias às minhas da maneira com que muitos artigos do PdH, Woody Allen, Palahniuk e outros fizeram.

No fundo, eu percebo que toda essa festa e alegria das pessoas ao meu redor, na verdade, são muito superficiais. Talas ou muletas para apoiarem suas mentes cansadas e preguiçosas. Se todos buscassem, no fundo mesmo, a real motivação de suas ações, estariam tão ou mais vazios do que eu me sinto agora.

Antigamente, eu não era assim, e estava sempre sorridente"


[a]pe[lo]rdido 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Rimbaud

O poeta se faz vidente por meio de um longo, imenso e refletido desregramento de todos os sentidos. Todas as formas de amor, de sentimento, de loucura; ele procura ele mesmo, ele esgota nele todos os venenos, para só guardar as quintessências.
 Arthur

pqn

"A imagem de Capitu ia comigo, e a minha imaginação, assim como lhe atribuíra lágrimas, há pouco, assim lhe encheu a boca de riso agora: vi-a escrever no muro, falar-me, andar à volta, com os braços no ar; ouvi distintamente o meu nome, de uma doçura que me embriagou"

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Machado de Assis; DomC

1/2

Encha o copo mais uma vez antes de perceber que ele nem estava vazio - o que há de vir tem muita força, eu sei - entre todas as coisas - a sua melhor metade.
[...]Todo amor, por menor que seja, deixa uma impressão. Eu esbarro em você na esquina e reajo de alguma forma imprevisível. Não tem como tratar como desconhecido quem um dia já foi o alvo das suas cócegas, a tua ligação de madrugada ou o teu pedido de socorro[...]

Orgias de latim, canta em grego, sabe nada do inglês' - O interno não aguenta tinta

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

o-mar

'Omar tinha uma personalidade; eu, feliz ou infelizmente, não tenho nenhuma. Do que sou numa hora na hora seguinte me separo; do que fui num dia no dia seguinte me esqueci. Quem, como Omar, é quem é, vive num só mundo, que é o externo; quem, como eu, não é quem é, vive não só no mundo externo, mas num sucessivo e diverso mundo interno. A sua filosofia, ainda que queira ser a mesma que a de Omar, forçosamente o não poderá ser. Assim, sem que deveras o queira, tenho em mim, como se fossem almas, as filosofias que critique; Omar podia rejeitar a todas, pois lhe eram externas, não as posso eu rejeitar, porque são eu.'



Omar Khayym - L. Desassossego - Bernardo

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A saudade é o não dito.
É um oco na alma.
Um soco na calma. 
 Paolla Milnyczul

domingo, 5 de janeiro de 2014

¨

Margarida has a strange appeal
Sways between suitors on a broken heel
Of course her desires they always mistook
She'd rather've been scarred than be scarred with loathe

In conversation she often contends
Costumes build customs that involve dead ends
She found her courage in a change of scene
This Sunday's social would be short its queen

All her best years spent distracted
By these tired reenactments
With the right step she'll try her chances
Somewhere else

There he is a step outside her view
Reciting the words he hoped she might pursue
Night upon night a faithful light at shore
If he'd only convince his legs across the floor

Please, don't watch me dancing
Oh no, don't watch me dancing

Something changes when she glances
Enough to teach you what romance is
With the right step they try their chances
Somewhere else

Please, don't watch me dancing
Don't watch me dancing



mar-garid-a ; don't watch me dancing
 - little joy - bnk