terça-feira, 18 de março de 2014

des-propósitos

"Pensei, em correr, bater à porta dela, suplicar, mandar
flores, esperar. Nem dá pra repensar. E o barulho irritante que anuncia o dia. O
silêncio era só meu e era tudo. Por entre as cortinas que já foram amarelas, que
já viram todas as cores, só se via névoa e sujeira da chuva. A chuva parou, pelo
menos. Definitivamente não estava lá. Só as roupas no chão, o cheiro no ar e a
voz que ainda rondava o apartamento. Já não libidinoso, já não libertino. Só
fantasmagórico. E os lençóis desarrumados sobre a cama. O travesseiro como
companhia, ombro amigo, grande amor. E o que restou do silêncio. Não estava
mais lá.
Bom, bom... Fique, sonho bom, não deixe que te roube. Que te arraste
só pela voz. Ainda existe o que sonhar, talvez.
Insone - não por querer - sento, esquecido, em algum lugar, cinco
minutos antes de acordar. E saio, e entro, e abro, e giro e deixo que chova,
chova, chova, chova, chova. Pelo corpo, pelo cabelo, pelo pouco de alma que
escorre dos dedos, pela voz que geme em meus ouvidos. E que deixo invadir.
Pelo menos até o fim da espuma.
Cabeça dói, talvez seja um sinal. Costume de autoiludir.
Tal qual sonho em manhã nublada. Sonho que morreu no tempo. Foi
uma palavra ríspida, uma ironia, às costas, às costas. Ruim.
Os lugares, a caçada, a sala de espera. Seria tão menos solitário. Ainda
tem as chaves desde aquela terceira segunda noite, quando invadiu minha
cama.
Desde que a cama esvaziou, todos, todos são tão reticentes. E eu,
reticências. E pensamos em entregar os pontos.
Era hora de voltar"


Daniel C - Tristes C

Nenhum comentário:

Postar um comentário