quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

man-oé


Me abandonaram sobre as pedras infinitamente nu, e meu canto.
Meu canto reboja.
Não tem margens a palavra. Sapo é nuvem neste invento.
Minha voz é úmida como restos de comida.
A hera veste meus princípios e meus óculos.
Só sei por emanações por aderência por incrustações.
O que sou de parede os caramujos sagram.
A uma pedrada de mim é o limbo.
Nos monturos do poema os urubus me farreiam.
Estrela é que é o meu penacho!
Sou fuga para flauta e pedra doce.
A poesia me desbrava.
Com águas me alinhavo.


Manoel de Barros

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