segunda-feira, 26 de outubro de 2015

traves sia'

Quando você foi embora
Fez-se noite em meu viver
Forte eu sou mas não tem jeito,
Hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha,
E nem é meu este lugar
Estou só e não resisto,
Muito tenho prá falar

Solto a voz nas estradas,
Já não quero parar
Meu caminho é de pedra,
Como posso sonhar
Sonho feito de brisa,
Vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto,
Vou querer me matar

Vou seguindo pela vida
Me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte,
Tenho muito que viver
Vou querer amar de novo
E se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço
Com meu braço o meu viver


[...]


Milton Nascimento


quinta-feira, 22 de outubro de 2015

neru' e as dores

“Nós, os que perecemos, tocamos os metais, o vento, as margens do oceano, as pedras, sabendo que seguirão, imóveis ou ardentes, e eu fui descobrindo, dando nome às coisas: foi meu destino amar e despedir-me.”

~Pablo Neruda~

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

menina do mar. olhos


hoje é dia do mar
a mar, ah
a mar o mar
amaromar
amar
-
"Somos todos
um bando de viciados,
enquanto o mundo
não para nunca,
acelera
e nos engole.
Viciados
nas imagens cinematográficas
no noticiário da Folha de domingo
no rebolado de Cecília na avenida
na bebida, no Malboro, na escrita,
no sorriso escancarado de Joel
no espetáculo tragicômico da vida
no amor
na ferida
nas flores que despistam a morte
na despedida.
Somos todos
um bando de viciados
enquanto o caos
não para nunca,
acelera
e nos engole por dentro.
E depois do estrago o suicídio abre as gavetas
e escrevemos todas as magoas, as metades, as perdas
escancaramos nossas almas sem sinal nem cortinas
iniciamos o espetáculo da utopia desvanecida
porque chorar se torna medíocre
porque as mãos estão suadas e escorregadias
porque você não se cansa de ir embora
porque a visão não permite mais o foco
e a realidade escapole e afoga
e o amor alucina e ressuscita a única saída,
a poesia.
Somos um bando de poetas enlouquecidos."
-

Elisa Bartlett 
Cafe e poesias - via.

domingo, 11 de outubro de 2015

àvista


Poesia é ponto de vista, vista!


Tudo, aliás, é a ponta de um mistério, inclusive os fatos. Ou a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece há um milagre que não estamos vendo.
 

- João Guimarães Rosa-

O mistério estava nos olhos. Estes eram opacos, não sempre nem tanto que não fossem também lúcidos e agudos, e neste último estado eram igualmente compridos; tão compridos e tão agudos que entravam pela gente abaixo, revolviam o coração e tornavam cá fora, prontos para nova entrada e outro revolvimento.

- Machado de Assis - Joaquim -





ponto.
Vontade, no entanto, de ficar assim sentado, com caneta e papel, à espera de alguma coisa. Não disse alguém que o homem escreve para matar a própria morte? Talvez seja esse sentimento que me coloca, a contragosto, nessa posição para mim meio ridícula, como um espírita em vias de psicografar mensagens do além. Porque o além está presente, disso não haja a menor dúvida.

Vinicius de Moraes

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

E se tu viesse me ver hoje à noitinha? Assim, sem muita conversa, sem muita expectativa dos dias que ainda vão passar. Só viesse ser hospede aqui no meu coração – acredite, faz sol aqui dentro. Mas viesse sorrindo. Pois um sorriso custa tão pouco. E o amor, hoje, se faz tão raro.
Deita comigo, deixa eu brincar com a tua boca; ouvir o eco dos teus passos indo à cozinha; ver teu riso de alívio; sentir a tua mão na minha. Me acarinha as costas, some comigo no fim de semana, deixa nossa boca rimar, me suja de amor, canta comigo no chuveiro, me deixa cheiro de café no beijo de bom dia.


E se tu viesse hoje a noitinha? [>18]
entendaoshomens,
 

3030

Ontem faltou luz em todo morro
Eu vi ela passando sob a luz da lua
O medo e a incerteza rondavam pelas vielas
E o vai e vem distante, vindo das luzes nas ruas
Sigo procurando, quero encontrar aquela
Tal felicidade que já morou em mim
Cantarei pra ti uma canção bem singela
Só pra te olhar e ver partir

Luz em todo morro,
- pra quem desce a ladeira e sabe que a saudade no pé do morro é uma milícia armada.
"Olha bem, mulher
Eu vou te ser sincero
Eu tô com uma vontade danada 
de te entregar todos beijos que eu não te dei
E eu tô com uma saudade apertada de ir dormir bem cansado
E de acordar do teu lado pra te dizer
Que eu te amo
Que eu te amo demais"

Fragmento do Rubel sobre a minha saudade.
Rubel minha saudade sobre o teu fragmento.
- 4ªfeira destituída.
- saudade desconstrói.
dói.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

"Toda noite eu escuto um puta chiado no meu coração
e eu sei que é o som da chacina de tudo que se atreveu
a habitar no meu peito nesse dia. Toda manhã quando
eu acordo, várias coisas novas nascem no meu ser.
Eu sinto aqui dentro uma confusa reciclagem.
Uma mistura de saudade do que eu fui ontem com uma
curiosidade do que eu sou hoje se esfregando na angústia
do que eu me tornarei amanhã.”

 Teus Olhos Meus
- ponto -

dei-lirios

o amor é castanho-escuro


vou me perder no breu dos teus olhos castanhos
que nada dizem
e por não dizerem, não se revelam.
não me mostram o caminho que devo seguir.
meu rosto manchado, no papel impresso,
não serve como espelho.
teus olhos, sim.
porque mesmo no escuro, me enxergam.
vou me esconder no vazio dos teus braços
que se abrem como quem não querem nada
parecem cúmplices,
culpados,
nunca saem do espaço reservado pra mim.
"o que há de errado com esses saltos
que a gente vê da janela?"
eu não perderia meu tempo agarrada
na parede mais fria que teus olhos.
pularia junto, sem cautela.
pra não ter que olhar de novo as tuas fotos.

talvez um dia eu esqueça de me esquivar,
pois me entristece a falta que teu olhar faz.


- N. Mont
Dei-lírios,
Blgspt
Azedume Poético.

caídosecalados'

 
Tuas mãos por debaixo do pano
-avassalam-
teus olhos por debaixo de mim.
Teus cachos caindo -portanto-
me amarram,
me escarnam',
se dispõem entre respaldos,
saudades, pesares e afins.
Na solidão da noite ninguém nos vê
-caídos e calados-
a lua é a única que nos encara.
Genuína, se declara:
quem irá nos proteger?
(Aqui, calados e caídos).
Não peço que me devolva à vida,
apenas me devolva o sono que perdi.
Não saia antes de repetir:
volto
volto
volto
se você me garantir que fica.

Dei-lírios,
Natalia - azedumepoetico