quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

witchu

o nosso amor a gente quis mastigar devagar
sempre cada um por si só
não vê fim
não nem sim
e nem você nem eu talvez possa dizer
o gosto certo de já não saber e ir
e mastigar devagar
o nosso amor que a gente ainda sempre quis' - ver - você chegar e ser o que eu nem sei

desligo você
nus, deslizamos
pra que te esquecer
se o amor é tanto?
existo em você
por louco engano




graveola e o lixo polifônico 

sábado, 14 de dezembro de 2013

+

"Caí em meu patético período de desligamento. Muitas vezes, diante de seres humanos bons e maus igualmente, meus sentidos simplesmente se desligam, se cansam, eu desisto. Sou educado. Balanço a cabeça. Finjo entender, porque não quero magoar ninguém. Este é o único ponto fraco que tem me levado à maioria das encrencas. Tentando ser bom com os outros, muitas vezes tenho a alma reduzida a uma espécie de pasta espiritual.Deixa pra lá. Meu cérebro se tranca. Eu escuto. Eu respondo. E eles são broncos demais para perceber que não estou mais ali."

Hollywood do Velho

bau


"Parece-me que sempre estaria bem lá onde não estou, e essa questão de mudança é uma das que não cesso de discutir com minha alma"

dê - 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

fp

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: Fui eu?
Deus sabe, porque o escreveu.


Não sei quantas almas tenho -
F. Pessoa

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

xico e v.de.m

[...]Que para ser poeta não carecemos dominar obrigatoriamente a arte de fazer versos, o arco e a lira; é poeta todo aquele que vive a intensidade sem medo da mulher-abismo.
Sabe que não amar com medo de sofrer é a maior das bobagens, é querer se vacinar contra a angústia da finitude, como se fosse possível sair vivo do amor ou da vida[...]

Conselhos de vinicius -

Caí nesse conto do varejo sociológico, mas agora me rebelo. Estamos perdidos por preguiça sentimental mesmo. Pura acomodação.
Fingimos que estamos reagindo aos sinais dos tempos. Necas. Não confundam.
Sempre ligado para ler os sinais no rosto delas. Ler principalmente os olhos, as entrelinhas, os silêncios ao dobrar a esquina etc. Não deixar que ela se entregue a divagações com os farelos dos pães do café para nós dois.

Nunca estivemos tão vacilões. Canalhas primários. Só prometemos. Dizemos que vamos e…

Passo a régua com um haikai que fiz um madruga dessas, no mercado do Peixe, Salvador, Rio Vermelho: Você vem, mexe, assanha /depois fica no vai não vai/ parece “Canto de Ossanha”.


“Você só quer me comer!!!” - Can I stay until the coffee awakes?

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

a poesia perd-ida


Após uma semana de inspiração
Curtindo àquele sentimento vago
Um estranho peso e a sensação
De estar levando no peito um mago

Uma tristeza vaga acalentada
Pela certeza de levar no peito
Todas as dores dos meus mortos
Num martelar doído e sem jeito

Súbito enquanto dirigia no caos
Do trânsito das ruas de Cascavel
Uma imensa alegria me invade
E corro pra tentar colocar no papel

Mas já foi o tempo de esculpir
Versos como o escultor à marreta
Hoje tecla-se a poesia adormecida
Adeus à mágica fidelidade da caneta

Quando o poeta digita suas mágoas
O computador parece obedecer
Vai engolindo os sentimentos
E os coloca na verdade como quer

E sai na tela exatamente o que quis dizer
Versos esculpidos de perdas e dores
Mas o computador os engole a todos
Assim como faz pra deletar os amores...


Luís Alberto - Batista Peres - L. Alberto -

poeti-ca


Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto espediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.

Abaixo os puristas.
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar &agraves mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare.

- Não quero saber do lirismo que não é libertação.



M. Bandeira -

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Mesmo que os cantores sejam falsos como eu
Serão bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo miseráveis os poetas
Os seus versos serão bons
Mesmo porque as notas eram surdas
Quando um deus sonso e ladrão
Fez das tripas a primeira lira
Que animou todos os sons
E daí nasceram as baladas
E os arroubos de bandidos como eu
Cantando assim:
Você nasceu para mim
Você nasceu para mim
Mesmo que você feche os ouvidos
E as janelas do vestido
Minha musa vai cair em tentação
Mesmo porque estou falando grego
Com sua imaginação
Mesmo que você fuja de mim
Por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão
E eis que, menos sábios do que antes
Os seus lábios ofegantes
Hão de se entregar assim:
Me leve até o fim
Me leve até o fim
Mesmo que os romances sejam falsos como o nosso
São bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo sendo errados os amantes
Seus amores serão bons


Edu - Chico - sobre a validade' - c.bandido

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013


"Quando mostrou o rosto , a voz e o sonho, não soube que era como espelho. Tudo parecia resto de outros rostos, pedaços de outros abraços e sonhos quebrados entre os dela. E eu era assim tão dela , e sabia, até mais que eu poderia, que moraria entre os dedos dela se soubesse ser ela. Não quero dizer agora que a amo ou justificar por que me escondi. Ou por que não notei ou pelo menos não demonstrei que senti o ar sumir quando ela chegou com aquele jeito, e andava como se anda com os dedos no piano, chovia dentro de mim e fazia tudo esmaecer. Lembro da voz, do rosto no ombro, do modo como se entregava à música. Tirou meu ar ao entrar. Queria ficar ali, me ajoelhar, beijar e lamber a barriga. Queria implorar de novo."

- Waldir L.

baudê'



"Il faut être toujours ivre. Tout est là: c’est l’unique question. Pour ne pas sentir l’horrible fardeau du Temps qui brise vos épaules et vous penche vers la terre, il faut vous enivrer sans trêve.Mais de quoi? De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise. Mais enivrez-vous. Et si quelquefois, sur les marches d’un palais, sur l’herbe verte d’un fossé, dans la solitude morne de votre chambre, vous vous réveillez, l’ivresse déjà diminuée ou disparue, demandez au vent, à la vague, à l’étoile, à l’oiseau, à l’horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, demandez quelle heure il est et le vent, la vague, l’étoile, l’oiseau, l’horloge, vous répondront: “Il est l’heure de s’enivrer! Pour n’être pas les esclaves martyrisés du Temps, enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise"

laire' 


E o dia não se foi e seus pés procuravam os meus no frio e ela ria na
cama e escondia o rosto na dobra do casaco e puxava para perto. E pulou da
cama e correu e voltou com uma caneta e disse “levanta a blusa”. Continuei
imóvel, com cara de preguiça, e ela me beijou e disse “levanto eu então” e
levantou a blusa e abriu a calça e escreveu em minha virilha “Quero viver no
bolso do seu jeans.” E sorrindo completou em meu ouvido, de modo lento e
sussurrante e tão forte, quase profano, devasso, de quase perversão ou
perfeição “e ser a menina bonita do laço de fita dele, um chaveiro, a chave. E me
perder em sorrisos, viver em versos. Versos, ver sós, ver sóis. Luz”. Passou a
língua em meu ouvido, me beijou, se trocou e saiu pro trabalho. E essa foto e
esse dia bom que me persegue de novo. Não me lembrava dessa. Acho que ela
não sabe dela. Mas, Deus. Tantas lembranças. Não há mais o que lembrar além
da saudade, e saudades do quarto amanhecendo.
A luz, aos poucos - fria, discreta - começava a espiar por entre as
cortinas que mudavam, tão marrons, de cor. Difícil encontrar meio de descrever
quão amarelo era. E derretia, frio e discreto, por tudo que havia à volta. O
armário de seis portas, uma mesa com luminária, alguns papéis em cima. Uma
prateleira lotada de livros interessantes, livros nem tanto, autores bons, autores
de que nunca tinha ouvido falar. Livros de nomes que davam uma vontade de
ler, os DVDs de filmes premiados de bancada de ofertas. Todos os discos com
todas as músicas que brincávamos de viver, de sentir diferente. Sinto falta do
quarto amanhecendo.

Sinto falta de tudo se decompor em amarelo. Sinto falta da cama tão
desarrumada em nossos lençóis revirados. Sinto falta daquelas pernas que um
dia cercaram-me enquanto deitava, sinto falta do rosto ao ouvido. Respiração
ao ouvido, respiração ao ouvido, respiração ao ouvido, respiração ao ouvido.
Sinto falta de sentir o ar levando aquelas mãos, leves, por toda a minha
cintura e descendo e subindo. Sinto falta do perfume a levar, a levar. Levar. E do
rosto, derretido em amarelo frio e discreto, ainda com sono, olhos sequer
abertos, perfume ainda ali. Escondendo os cabelos do meu olhar, se mantendo à
mostra, se mantendo em mim. Sinto falta do gosto do perfume. Do gosto do
gosto e do perfume do gosto. Sinto falta do rosto e das palavras sem sons que
me desfizeram - em um amarelo frio e discreto.

O amarelo seria esquecido nas luzes vermelhas do meio-dia. 




 - dancorrea' - "T.C."