terça-feira, 28 de julho de 2015

- entretodasascoisas -
"As pessoas simplesmente aparecem e se vão – assim como você se foi naquela última vez que bateu essa porta, maldita porta que insiste em me encarar todos os dias me pedindo respostas"
[...]

ela se foi pela última vez.

Carol Sassatelli

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Tudo passa.
Difícil é saber o que sobra.

-
Antigamente, se morria.
1907, digamos, aquilo sim
é que era morrer.
Morria gente todo dia,
e morria com muito prazer,
já que todo mundo sabia
que o Juízo, afinal, viria,
e todo mundo ia renascer.
Morria-se praticamente de tudo.
De doença, de parto, de tosse.
E ainda se morria de amor,
como se amar morte fosse.
no Pra morrer, bastava um susto,
um lenço no vento, um suspiro e pronto,
lá se ia nosso defunto
para a terra dos pés juntos.
Dia de anos, casamento, batizado,
morrer era um tipo de festa,
uma das coisas da vida,
como ser ou não ser convidado.
O escândalo era de praxe.
Mas os danos eram pequenos.
Descansou. Partiu. Deus o tenha.
Sempre alguém tinha uma frase
que deixava aquilo mais ou menos.
Tinha coisas que matavam na certa.
Pepino com leite, vento encanado,
praga de velha e amor mal curado.
Tinha coisas que tem que morrer,
tinha coisas que tem que matar.
A honra, a terra e o sangue
mandou muita gente praquele lugar.
Que mais podia um velho fazer,
nos idos de 1916,
a não ser pegar pneumonia,
deixar tudo para os filhos
e virar fotografia?
Ninguém vivia pra sempre.
Afinal, a vida é um upa.
Não deu pra ir mais além.
Mas ninguém tem culpa.
Quem mandou não ser devoto
de Santo Inácio de Acapulco,
Menino Jesus de Praga?
O diabo anda solto.
Aqui se faz, aqui se paga.
Almoçou e fez a barba,
tomou banho e foi no vento.
Não tem o que reclamar.
Agora, vamos ao testamento.
Hoje, a morte está difícil.
Tem recursos, tem asilos, tem remédios.
Agora, a morte tem limites.
E, em caso de necessidade,
a ciência da eternidade
inventou a criônica.
Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica."


- Paulo Leminski,

sábado, 25 de julho de 2015

- Uma verdade do Álvaro

Partir!
Nunca voltarei,
Nunca voltarei porque nunca se volta.
O lugar a que se volta é sempre outro.



Na noite terrível, substância natural de todas as noites,
Na noite de insónia, substância natural de todas as minhas noites, Relembro, velando em modorra incómoda,
Relembro o que fiz e o que podia ter feito na vida.
Relembro, e uma angústia
Espalha-se por mim todo como um frio do corpo ou um medo.
O irreparável do meu passado — esse é que é o cadáver!
Todos os outros cadáveres pode ser que sejam ilusão.
Todos os mortos pode ser que sejam vivos noutra parte.
Todos os meus próprios momentos passados pode ser que existam algures,
Na ilusão do espaço e do tempo,
Na falsidade do decorrer.


Álvaro de Campos -
- FP

colhe o dia, porque és ele



Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.

Por que tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.

Ricardo Reis - FP.

[...]
O mar não é de calma
A calma é um naufrágio
E é tudo um desencontro
Fiquei de fora
Do seu retorno
O que é que a gente salva
Se é tudo assim tão frágil
Vazio e sem contorno

.já deu a hora.

[...] 


Okinawa, fragmento.
- Silva
 Takai - 

 
 

sexta-feira, 24 de julho de 2015

***

"Mas as coisas vão acontecendo… as pessoas se vão, ou deixam de nos amar, ou não nos entendem, ou nós não as entendemos… E nós perdemos, erramos, magoamos uns aos outros. E o navio começa a rachar em determinados lugares. E então, quando o navio racha, o final é inevitável. (…) Mas ainda há um momento entre o momento em que as rachaduras começam a se abrir e o momento em que nós rompemos por completo. E é nesse intervalo que conseguimos enxergar uns aos outros. "

- Quentin

quinta-feira, 23 de julho de 2015

ciclos'

1fragmento do Wellington Freire Machado - viaObvious

O fim do ciclo e a dificuldade do desapego.

Não é fácil “desviver” o já vivido. Zerar a conta. Pedir uma nova rodada. Colocar em prática a velha balela de que o presente deve se construir sobre o passado. Viver é para os fortes e você é um deles. Se já chegou até aqui, provavelmente não morrerá disso. Talvez lhe doa entender que o ciclo fechou, mas amanhã (eu prometo, amanhã) se dará conta que o ciclo não se fechou coisíssima nenhuma. O que aconteceu foi que outro ciclo se abriu. Você lembrou que não é a primeira vez. Que já passou por baques mais fortes. Mas você já está na estrada novamente. Um pouco debilitado, como todo bom soldado que volta da guerra. Mas está em pé. Pronto para começar uma nova jornada com destino (ainda) desconhecido.


encerrar ciclos sem pontos finais, ponto.

a energia do amor


"O amor é luz e sabe da vastidão que abrange. Tudo que toca exala uma aura mágica, cheia de dinamismo, otimismo e simpatia"

- VanelliDoratioto

sinto muito - [1]

trêspontinhos
Faz tempo que quero te dizer, só que mais uma você não me ligou e eu tive que guardar para mim. Espero que aproveite o tempo em que seu telefone fica desligado e que lembre bem da sensação de saber que meus dedos digitam seu número, sem resposta, porque um dia será ao contrário [...]-[...]

[...]
Faz tempo que eu quero te dizer, só que você não respondeu minha mensagem outra vez, então tive que engolir e fingir que não estou perdendo as esperanças em você. Ando pisando em cacos e dizendo que não dói, colocando curativos por cima sem nem mesmo tirar os pedaços antes.
[...]
[...]Eu tive que trancar minha porta [...]

- Faz tempo que eu quero te dizer, mas você me disse outra vez que estava ocupado e depois a gente conversava. Mas o depois nunca chegou e não deu mais para esperar o dia em que você fosse me olhar e realmente me ver.

"Eu já não tenho mais tempo para te dizer. Te digo, então, que eu sinto muito por você ter sentido tão pouco"

Eu já não tenho mais tempo algum. Tenho pressa em sair desse sufoco. Só posso terminar dizendo que eu sinto muito, só que dessa vez não sinto por mim, sinto muito por você.


- por você ter sentido tão pouco [2]





: entre parênteses
Najara Gomes
Via Obvious



s.t.c.


[...]
As poéticas balbuciadas dos lábios, são os sonetos das tardes de café, são as estórias contadas como se fossem segredos. Sussurradas em meio a tons, quase que indecifráveis
[...]

Alma, o movimento do espírito
Obvious
Anna Claudia

zero4êne

Robô esmaga
- não solta da minha mão.


quarta-feira, 22 de julho de 2015

Amuralhar o próprio sofrimento é arriscar que ele te devore desde o interior.

Frida Kahlo

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Há em Toda a Beleza uma Amargura

Há em toda a beleza uma amargura
secreta e confundida que é latente
ambígua indecifrável duplamente
oculta a si e a quem na olhar obscura

Não fica igual aos vivos no que dura
e a não pode entender qualquer vivente
qual no cabelo orvalho ou brisa rente
quanto mais perto mais se desfigura

Ficando como Helena à luz do ocaso
a língua dos dois reinos nâo lhe é azo
senão de apartar tranças ofuscante

Mas à tua beleza não foi dado
qual morte a abrir teu juvenil estado
crescer e nomear-se em cada instante? 

- Walter Benjamin

terça-feira, 14 de julho de 2015

[...]
Como me perco no coração de alguns meninos,
perdi-me muitas vezes pelo mar.
Ignorante da água, vou buscando
uma morte de luz que me consuma.


García Lorca -
in Divã de Tamarit

quêdor (?) !


nalgum lugar em que eu nunca estive


[...]
nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas.


- Nalgum lugar
E.E.Cummings

sexta-feira, 3 de julho de 2015