sexta-feira, 28 de março de 2014

trovador solitario

Clareia manhã
O sol vai esconder a clara estrela
Ardente, pérola do céu refletindo teus olhos
A luz do dia a contemplar seu corpo
Sedento, louco de prazer e desejos
Ardente 

Nascente, B. Guedes -

segunda-feira, 24 de março de 2014

pois'zé


e, "o analista indicou-lhe começar a beber consigo"

pobre O.

Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.

 - Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo -

E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;

E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.


- Ao coração que sofre -
O. Bilac -

sexta-feira, 21 de março de 2014

'

"Se eu gosto de poesia? Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor. Acho que a poesia está contida nisso tudo."
- Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 19 de março de 2014

a mesma

"Paris, outono de 73
Estou no nosso bar mais uma vez
E escrevo pra dizer
Que é a mesma taça e a mesma luz
Brilhando no champanhe em vários tons azuis
No espelho em frente eu sou mais um freguês
Um homem que já foi feliz, talvez
E vejo que em seu rosto correm lágrimas de dor
Saudades, certamente, de algum grande amor
Mas ao vê-lo assim tão triste e só
Sou eu que estou chorando
Lágrimas iguais
É, a vida é assim, o tempo passa
E fica relembrando
Canções do amor demais
Sim, será mais um, mais um qualquer
Que vem de vez em quando
E olha para trás
É, existe sempre uma mulher
Pra se ficar pensando
Nem sei, nem lembro mais"

-

- A carta que não foi mandada -
Vinicius de Moraes -

terça-feira, 18 de março de 2014

des-propósitos

"Pensei, em correr, bater à porta dela, suplicar, mandar
flores, esperar. Nem dá pra repensar. E o barulho irritante que anuncia o dia. O
silêncio era só meu e era tudo. Por entre as cortinas que já foram amarelas, que
já viram todas as cores, só se via névoa e sujeira da chuva. A chuva parou, pelo
menos. Definitivamente não estava lá. Só as roupas no chão, o cheiro no ar e a
voz que ainda rondava o apartamento. Já não libidinoso, já não libertino. Só
fantasmagórico. E os lençóis desarrumados sobre a cama. O travesseiro como
companhia, ombro amigo, grande amor. E o que restou do silêncio. Não estava
mais lá.
Bom, bom... Fique, sonho bom, não deixe que te roube. Que te arraste
só pela voz. Ainda existe o que sonhar, talvez.
Insone - não por querer - sento, esquecido, em algum lugar, cinco
minutos antes de acordar. E saio, e entro, e abro, e giro e deixo que chova,
chova, chova, chova, chova. Pelo corpo, pelo cabelo, pelo pouco de alma que
escorre dos dedos, pela voz que geme em meus ouvidos. E que deixo invadir.
Pelo menos até o fim da espuma.
Cabeça dói, talvez seja um sinal. Costume de autoiludir.
Tal qual sonho em manhã nublada. Sonho que morreu no tempo. Foi
uma palavra ríspida, uma ironia, às costas, às costas. Ruim.
Os lugares, a caçada, a sala de espera. Seria tão menos solitário. Ainda
tem as chaves desde aquela terceira segunda noite, quando invadiu minha
cama.
Desde que a cama esvaziou, todos, todos são tão reticentes. E eu,
reticências. E pensamos em entregar os pontos.
Era hora de voltar"


Daniel C - Tristes C

sexta-feira, 14 de março de 2014

terça-feira, 11 de março de 2014

espaço'

"Lembrou-se de todas as vezes que pra você ela se despia das roupas, das máscaras de pepino, das coisas que ela dizia pra se defender. E ela remoía todas as vezes que se entregou por inteiro e você sempre sendo metade. Ela não conseguia lembrar o motivo que a levara a fazer isso, mas ela tava ali dessa vez, jurava, pra te dizer que nunca foi bem assim que ela te quis -
[Clarice A.]
[...] Meus olhos se fecham e repetem, repetem aqueles minutos de fim [...]

E eu penso, enterrada na minha mania de manter a esperança nos momentos mais impróprios, que sei ler nas entrelinhas. Que talvez você tenha me escolhido. Que vai me fazer uma proposta obscenamente linda e me oferecerá dias numa cabana caindo aos pedaços, passeios bêbados na praia, horas de companhia silenciosa"