quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

cazú

Preto no branco
Amarelo, um pouco de azul
Noite estrelada
Peito feliz
Olho no olho
Pintura a quatro mãos
Tintas claras
O mesmo cigarro
Isso é amor
Amor quente
Água de coco pra dois
Porta do carro aberta
Vento morno da areia
Palavras mentirosas
Isso é amor
Amor quente
Cama de casal
Luz bem baixinha pra ver
Gemidos de dor e alegria
Sair de si por três minutos
Isso é amor
Amor quente
Supermercado, escolher iogurte
Fazer compras juntas
Brigar por besteira
Isso é amor
Amor quente
Tomar café, banho, brisa
Champanhe, tristeza, beleza
Cremes, músicas, sucos, água
Drogas, fumo, passar perfume
Isso é amor
Amor quente

 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

aquar - ela

Você não entende, mas eu peço abrigo. Um abrigo bem claro, bem na minha frente, que dissipe frio ou incômodo qualquer.
[...] Eu não peço esmola, eu peço abrigo afetivo de verdade. Queria mesmo é que você parasse pra perguntar como foi o meu dia. Foi bom, tô bem, eu digo. Bom e bem são sinônimos de toda crise interna que a gente não consegue afugentar[...]
Te levaria prum quarto parado numa estrada qualquer pra te devorar. Ouviria as suas histórias e te pintaria nos meus escritos. Esboçaria um pouco dos teus olhos e das olheiras, que é pra te dar um ar humano, e reconheceria suas falhas no papel [...] Me pinta em aquarela pra me dar vida [...]

Bem e bom são sinônimos de um apocalipse pessoal -

Você não me conhece, mas eu suponho que poderíamos ser amantes. Ou amadores. Sempre achei que todo amante tivesse algo de amador - Poderíamos também ser amigos!
Eu te mandaria postais e a gente viveria nessa espera ansiosa de receber respostas. Promete pra mim que me escreve? Descreve, me escreve no papel, me rabisca um pouco pra eu sentir que não sou imaginado no mundo [...]

[...] - Só vem - cidade perdida - confusão - dois cigarros na rua e pensamentos que cortam -
Não me deixa viver essa coisa que não me deixa ver todas as coisas boas que os seus olhos castanhos contam - [..]



Dani B. - jornalista de comportamento a portas fechadas  -

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

velho

- "Vou lembrar de sua pequena sala, a sensação de você, a luz na janela, suas recordações, seus livros, o nosso café da manhã, a nossa tardes, nossas noites, nossos corpos derramados juntos dormindo, as pequenas correntes que fluem, imediatas e para sempre, sua perna na minha perna, seu braço no meu braço, o seu sorriso e o seu calor que me fizeram rir de novo." -

[...] em meu coração tem um pássaro
que quer sair
mas eu sou mais forte que ele,
eu falo, fica aí dentro, eu não vou
deixar ninguém
te ver."

Bukowski

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

- *


"Então me ocorreu que, apesar de sermos companheiras de viagem maravilhosas, no fundo não passávamos de duas massas solitárias de metal em suas próprias órbitas separadas. A distância, parecem belas estrelas cadentes, mas na realidade, não passam de prisões, em que cada uma de nós está trancada, sozinha, indo a lugar nenhum. Quando as órbitas desses dois satélites se cruzam, acidentalmente, podemos estar juntas. Talvez, até mesmo, abrir nossos corações uma à outra. Mas, só por um breve momento. No instante seguinte, estaremos na solidão absoluta."

- Minha Querida Sputinik' - 

ele mesmo/1


- Um número primo é inerentemente solitário: só pode ser divido por si próprio ou por um, nunca se adaptanto aos outros. Alice e Mattia também, vivendo em torno do seu próprio eixo, sozinhos com as suas respectivas tragédias -

“Mattia tinha estudado que entre os números primos existem alguns ainda mais especiais. Os matemáticos os chamam de primos gêmeos: são casais de números primos que estão lado a lado, ou melhor, quase vizinhos, porque entre eles sempre há um número par, que os impede de tocar-se verdadeiramente. Mattia achava que ele e Alice eram assim, dois primos gêmeos sós e perdidos, próximos, mas não o bastante para se tocar de verdade”.

A Solidão dos Números Primos - Paolo Giordano

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d-correa

"E são jeans, histórias, camelos e cervejas nunca bebidas que me trouxeram 
a única pessoa que sabe viver, ler, entender e interpretar todos os traumas da vida e 
ainda assim me fazer rir de todos eles e esquecer de mim, do mundo, da música que 
ainda soa nos meus ouvidos, que me fez escrever sobre os sorrisos que não mais vi e 
do espelho que ainda me diz o que fazer.
Os camelos que vivem em Gabriela viraram arte, o Daniel que vive com 
Gabriela virou parte.
Da alma, dos sorrisos, da vida que se vive, que sonha.
E não se perde, não perca, amigo, nas curvas e nas palavras tortas que 
ainda virão, se encontre que assim me encontrarei também.
A vida que não se vive é uma mentira. Ela vive e respira.
E não é vão"
 
 
 
 - Poesia na Virilha, Olhos Cinzas ou Quarenta Andares

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

teusolhos'

Um olhar profundo – ainda que breve – tem o poder quase que sobrenatural de interromper a ação do tempo, num daqueles momentos líricos, onde uma ponte se ergue entre os olhos recém-descobertos, conectando-os e congelando tudo ao redor.
A maioria das pessoas sorri com a boca, mas os verdadeiramente afortunados sorriem também com os olhos – e consequentemente com a alma. Estes, especiais que são, costumam ser responsáveis por instantes inesquecíveis na vida daqueles que cruzam os teus caminhos.
Olhares independem de lugares, nos encantamos em filas de banco, sinais fechados, pontos de ônibus e supermercados. Mesas de bar, então, são terrenos propícios para encontros oculares, sejam eles dispersos, diretos ou subliminares.
Pelas esquinas das cidades carentes de atenção, somos salvos – de tempos em tempos – por pontuais demonstrações de ternura, vindas de retinas desconhecidas, tão doces meninas dos olhos. E entre olhares dispostos a conjugarem temores expostos, partimos diariamente em busca de afagos simultâneos e abrigos silenciosos, que nos livrem – mesmo que momentaneamente – das angústias do caos cotidiano.


Dos olhares diários - Fellipo R. - cinco coisas'

Niet

Não há amor e bondade suficientes no mundo, para que ainda se possa oferecê-los a seres imaginários. 

- Humano demasiadamente humano.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

**/


gabito n.


"De todas as coisas que ouvi falarem sobre o amor, nenhuma admitia meia entrega. Ninguém meio que ama, ninguém meio que se entrega. Amar é desfazer-se de si, de fato. É tolice ter pavor de sair do chão receando retornar ao mesmo lugar de partida, um dia.
Aviso: encontrar alguém não significa dar fim à sua busca, dizimar seus problemas. Com o amor outros virão, troca-se apenas de pendengas, vão-se os amargos e os azedos, vêm os salgados ou os demasiado doces. A cabeça entende quando é a alma quem implora baixinho.
Permita, não há outro jeito. Do contrário, não interromperá essa ciranda deprimente de gastar o que não tem, com programas e coisas de que não precisa, para agradar a pessoas que você não ama e não te amam de volta. Te vejo aqui do alto, sentado numa nuvem equivalente ao ponto maior que uma doce entrega pode propiciar. Não vou enganar ninguém. Amar dói, mas nem sempre é igual. Na maioria dos dias, ele não queima, aquece, simplesmente.
Você só precisa escolher entre uma estrada e outra. Se o amor é clichê, a falta dele é lugar comum e viver é um abastado chavão de mau gosto. É preciso parar de soprar a chama que te faz brilhar mesmo em dias nublados, cantar alto nos eventos mais inadequados, provocar sorrisos bobos facilmente confundidos com engasgos. Você precisa parar com essa neurose de não querer saber a verdade, preocupada em não se machucar.
Talvez essa seja a maior besteira que já tenha dito, mas, garanto a você, existem pares de muito mais infelizes do que eu, todos assim como você, brincando de casinha, caçando paixão, simulando alegrias. Já tracei meu caminho faz tempo: mais vale fracassar vivendo as coisas do meu jeito do que vencer anulado, desfigurado, morto. Não entendo – ou não quero – esse medo de amar e ser feliz. É como atravessar o rio remando, num barco a motor.
Então, meu amor, estendo minha mão, morrendo de medo igualmente, sem levar nada tão a sério, ignorando toda vã filosofia de explicar sensações. Estou aqui no chão por você. Desci, para mais tarde te acompanhar na subida. Venha preencher e pintar minha vida de caos, de dilatação, equações, sorte e até algumas mágoas. Mas não há que ser agora. Bem sei que jamais guardo um nome, mas, no seu caso, fatalmente, conseguirei abrir uma exceção"


G. Nunes

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

cfa

"Além disso, ainda não havia apreendido o grande desencontro das palavras – portanto não poderia comunicar-se de maneira adulta, posto que a maneira-adulta-de-comunicar-se trata-se de um constante dizer o que não se quer, pedir o que se tem e dar o que não se possui".

O Inventário do Ir-remediável .

domingo, 2 de fevereiro de 2014

¨

Sorriso audível das folhas 
Não és mais que a brisa ali 
Se eu te olho e tu me olhas, 
Quem primeiro é que sorri? 
O primeiro a sorrir ri. 

Ri e olha de repente 
Para fins de não olhar 
Para onde nas folhas sente 
O som do vento a passar 
Tudo é vento e disfarçar. 

Mas o olhar, de estar olhando 
Onde não olha, voltou 
E estamos os dois falando 
O que se não conversou 
Isto acaba ou começou?


Sorriso audível das folhas - F.Pessoa