sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

[p;a]

Toda despedida
Uma hora
Se calça e fica
E quando ameaça
Sair de novo,
Se calcifica

Toda despedida
uma hora
se cansa e fica
fixa
grudada na sola do sapato
na gola da camisa
na mola do coração
no gozo do ato
E se demora
Até criar enjoo,
Ânsia de vou-me to-
-do.
E se lamenta:
poderia ter ficado feliz ou bem puto
poderia ter ido vivão ou de luto

Saudade é essa coisa petrificada no peito
Que amolece toda vez que a vida nos lembra:
Saudade não existe;
é medo de partir pra outra...

saudade?


[petrificada; antônio]

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

respirar você


"É por trás dos copos de uísque que se escondem verdadeiras histórias que não deram certo"

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

#


Eu não quero o teu corpo
Eu não quero a tua alma,
Eu deixarei intato o teu ser a tua pessoa inviolável
Eu quero apenas uma parte neste prazer
A parte que não te pertence

joaquim m.


É normal essa saudade do que nunca escutei?

Eu nunca te vi, te cheirei e te ouvi. Mas já te desenhei, colei o teu retrato junto ao meu e aprendi a amar esses sorrisos que vêm na minha imaginação. É dessas histórias que nunca aconteceram e que a gente sabe de cor. De coração. Quando você se afastar, eu vou guardar o teu gosto em mim. Uma pena que você não fique impregnado feito cigarro pelos meus cabelos e pelos meus tons. Nos dias nublados, vou me recordar com afeto do silêncio-tum-tum-tum-tum. E tudo volta a ser poesia.
Sim, estou com saudades das coisas que nunca vivi. Apenas porque dias nublados são sempre dias de recordações e poesia. E silêncio.

Tudo ficou meio quieto!



Ígor L. / Joaquim -

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

Sheets of empty canvas, untouched sheets of clay
Were laid spread out before me as her body once did
All five horizons revolved around her soul
As the earth to the sun
Now the air I tasted and breathed has taken a turn

black - p.jam' -

pela met-ade

Mais uma vez ele viu o relógio mudar rapidamente de 6 para 7 os minutos da quarta hora da madrugada. Apesar da quase rotina, esse hábito ainda causava um certo desconforto; parecia haver hora certa para lembrar dela. Balbuciou o palavrão de sempre, estalou os dedos e procurou os óculos no escuro. Já previa a dor nos olhos antes mesmo de acender a luz, então decidiu descer a escada no breu mesmo. Abriu metade da janela, observou a chuva por alguns minutos, lembrou das noites chuvosas ao lado dela, lembrou do vidro embaçado e da música suave das gotas atingindo-o, lembrou do edredom roxo ou violeta ou púrpura – nunca soube qual a verdadeira identidade cromática do negócio e também não levou o assunto à ela – e do cachorro dormindo embaixo da cama. Lembrou dela, do sono dela, da maneira como os olhos dela se apertavam quando ela dormia, das asas redondas do nariz, dos lábios finos convidando-o para um beijo. Lembrou do cheiro da respiração dela e respirou profundamente, como que querendo encontrar tal cheiro no ar. Falhou.
Foi acordado do sonho-acordado por uma distante sirene de polícia, andou lentamente até o fogão e aqueceu uma medida de leite. Enquanto aguardava, reparou na quase dúzia de folhas de caderno escritas e rasuradas e espalhadas na mesa numa ordem que somente ele entendia. E nessas folhas, palavras que somente ela entenderia.
Sonhou de novo, e dessa vez com os vários bilhetes que escondeu pelo quarto dela, bilhetes recheados de pequenas juras e promessas e micro-elogios que arrancariam dela aquele sorriso que só ele conhecia, bilhetes assinados pela metade, que mostravam o quão inteiro ele era com a metade dela. Acordou novamente, dessa vez com o cheiro de leite fervendo, xingou a vaca, disfarçou muito mal um sorriso, terminou de preparar o capuccino e aqueceu a garganta com goles curtos. Era normal esquecer do mundo quando se lembrava dela. Era comum.
Largou a xícara na mesa, apagou a luz e, antes de voltar à cama, viu a luz amarela e deprimida de um poste atravessar a janela e repousar na cadeira ao lado. Como previsto, sentiu o costumeiro aperto no peito e também a solidão tocar-lhe os ombros. Tudo naquela casa lembrava dois, à dois, os dois, mesmo sem nunca ter existido dois naquele espaço. Repare bem: naquele espaço. A cadeira vazia servindo de repouso para o violão, o número de talheres e pratos e copos, a mesa redonda e pequena, o box do banheiro, a cama de solteiro (para dormirem mais próximos). Sentiu o chão gelado abaixo dos pés e desejou os pés dela colados nos dele. Voltou pra cama, olhou a foto dela na tela do celular, rezou por ela e reclamou consigo mesmo, com seu próprio deus, sobre as lágrimas que se acumulavam nos cantos dos olhos contra sua vontade. Alguns minutos depois da quarta hora da madrugada, ele tirou os óculos e os deixou no chão mesmo; ela não estaria ali para pisar neles meio que por engano. E como esperado, não dormiu.


          Crônica breve sobre aquele sentimento de saudade -  Silvio F. O. Jr

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

canecadechá

Lembro bem do dia
Em que você chegou
Como quem não ia mais sair
Chá de tangerina
Velhas cartas não abertas
Sala pro chá das seis
Veio como quem vinha me carregar
Mas só tem as mãos a desenhar
Me desenha histórias que eu não caberia
Me atrevo a te inventar
Pode ser porque
Nunca mais será
Como te perder
Se nunca te achei aqui

E foi o desenho de um balão
Colorido com azul de céu
Que escondeu nas minhas malas
Entre os meus vestidos
Quando eu dizia adeus
E só me convida a passear
Mas me manda para além do mar
Me desenha um vôo

E eu espero
Mais que um amor de giz
E pode ser porque
Nunca mais será
É como te perder
Mas nunca te achei aqui
E foi o desenho de um balão

Colorido com azul de céu - azul

a desenhista - ana, -


e-nd


Há tristezas que nos paralisaram por meses, mas que hoje, passados os dias difíceis, mal guardamos lembrança de horas.
Há eventos que marcaram, e que duram para sempre.

[...]Têm a duração que nos ensina o significado da palavra “eternidade” - Já viajei para a mesma cidade uma centena de vezes, e na maioria das vezes o tempo transcorrido foi o mesmo.
Mas conforme meu espírito, houve viagem que não teve fim até hoje, como há percurso que nem me lembro de ter feito, tão feliz estava eu na ocasião.[...]

 - O relógio do coração hoje descubro, bate noutra freqüência daquele que carrego no pulso.
Marca um tempo diferente, de emoções que perduram e que mostram o verdadeiro tempo da gente - 

Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio - seguiria sempre em frente.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

o tempo, relógio do coração, ponto final
                                                                                                                   Mario Q. 

sina-is

[...] Te perco no sono depois da despedida. Já aprendi que me agarrar a escombros ou destinos fatídicos resulta em dor. Dor lancinante, daquelas dores que a gente aprende a evitar porque sentir é demais pra aguentar quando não tem alguém pra dividir. Te perco e te reencontro nos cochilos de domingo, na esperança da correspondência da caixa 45 do meu prédio, da campainha que toca inesperada e recrio você a partir de memórias [...]

E eu sinto falta. Falta é toda a companhia que eu aceito porque ela não me pergunta sobre você. Não me pergunta e não me repreende pelo desespero que era precipitado e agora se confirma. Na caixa postal vazia, na falta de conexão e na vida de quem eu não faço mais parte. 

[...] É preciso que se enxergue com as mãos, com os cheiros, com o vento que os gestos fazem no ar. Suas linhas todas me são vivas no olhomental que carrego no fundo do estômago. Não preciso de olhos se tenho olhos na ponta dos dedos, na cavidade ínfima do nariz, no espaço mesmo entre o ombro e o pescoço. Te ofereceria um buquê de rosas, ou até uma caixinha de música, mas só tenho essas palavras… o espaço dentro do corpo ficou pequeno pra tanto sentir. Mas sentir é sempre entrega. É tanto entregar-me que em mim nada mais resta. É tanto dar-se que em mim nada mais cabe. Porque o dar também implica num movimento interno. E esse movimento acaba por preencher deixando vazio. Daí só me sobram as palavras ... [...]

- disfunção ardente que não cabe em nenhum parágrafo ou coisa morta. 'Vou me sendo' enquanto ainda não sou e espero com rosas nos cabelos: embaixo da chuva -

[...] Me deparei com a constatação de que, de você, nada tenho. São só sinais de difícil compreensão ou sinais que eu tenho inventado [...]


Com solidão compartilhada como um fantasma, eu ouço ainda mais alto: eu nunca vou esquecer de você!
* Hoje eu acordei pensando nos teus sinais *

dom c.

"A imagem de Capitu ia comigo, e a minha imaginação, assim como lhe atribuíra lágrimas, há pouco, assim lhe encheu a boca de riso agora: vi-a escrever no muro, falar-me, andar à volta, com os braços no ar; ouvi distintamente o meu nome, de uma doçura que me embriagou"
-   -   - ---
Entre o querer e a concretização existem alguns 'anos' de prática em negociação interna, confrontada com uma realidade que não barganha com pequenos príncipes.
Esses imperadores sem reino vão passar a vida inteira querendo, querendo, querendo, mas não conseguindo nada; iludidos,

dançarão o som de uma música que só toca na cabeça deles.

---   - - -a autópsia filosófica ---

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

i/i

"No momento, o estilo de vida que mais me enche os olhos é o de um hippie vendendo artesanato na praia ou de um monge em meditação numa caverna no Tibet. Eu me julgo mais inteligente que as pessoas com frequência, não por maldade ou satisfação pessoal, mas sim pelos absurdos que ouço saindo de suas bocas.

Não sei onde encontrar gente interessante que some ideias às minhas da maneira com que muitos artigos do PdH, Woody Allen, Palahniuk e outros fizeram.

No fundo, eu percebo que toda essa festa e alegria das pessoas ao meu redor, na verdade, são muito superficiais. Talas ou muletas para apoiarem suas mentes cansadas e preguiçosas. Se todos buscassem, no fundo mesmo, a real motivação de suas ações, estariam tão ou mais vazios do que eu me sinto agora.

Antigamente, eu não era assim, e estava sempre sorridente"


[a]pe[lo]rdido 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Rimbaud

O poeta se faz vidente por meio de um longo, imenso e refletido desregramento de todos os sentidos. Todas as formas de amor, de sentimento, de loucura; ele procura ele mesmo, ele esgota nele todos os venenos, para só guardar as quintessências.
 Arthur

pqn

"A imagem de Capitu ia comigo, e a minha imaginação, assim como lhe atribuíra lágrimas, há pouco, assim lhe encheu a boca de riso agora: vi-a escrever no muro, falar-me, andar à volta, com os braços no ar; ouvi distintamente o meu nome, de uma doçura que me embriagou"

-


Machado de Assis; DomC

1/2

Encha o copo mais uma vez antes de perceber que ele nem estava vazio - o que há de vir tem muita força, eu sei - entre todas as coisas - a sua melhor metade.
[...]Todo amor, por menor que seja, deixa uma impressão. Eu esbarro em você na esquina e reajo de alguma forma imprevisível. Não tem como tratar como desconhecido quem um dia já foi o alvo das suas cócegas, a tua ligação de madrugada ou o teu pedido de socorro[...]

Orgias de latim, canta em grego, sabe nada do inglês' - O interno não aguenta tinta

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

o-mar

'Omar tinha uma personalidade; eu, feliz ou infelizmente, não tenho nenhuma. Do que sou numa hora na hora seguinte me separo; do que fui num dia no dia seguinte me esqueci. Quem, como Omar, é quem é, vive num só mundo, que é o externo; quem, como eu, não é quem é, vive não só no mundo externo, mas num sucessivo e diverso mundo interno. A sua filosofia, ainda que queira ser a mesma que a de Omar, forçosamente o não poderá ser. Assim, sem que deveras o queira, tenho em mim, como se fossem almas, as filosofias que critique; Omar podia rejeitar a todas, pois lhe eram externas, não as posso eu rejeitar, porque são eu.'



Omar Khayym - L. Desassossego - Bernardo

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A saudade é o não dito.
É um oco na alma.
Um soco na calma. 
 Paolla Milnyczul

domingo, 5 de janeiro de 2014

¨

Margarida has a strange appeal
Sways between suitors on a broken heel
Of course her desires they always mistook
She'd rather've been scarred than be scarred with loathe

In conversation she often contends
Costumes build customs that involve dead ends
She found her courage in a change of scene
This Sunday's social would be short its queen

All her best years spent distracted
By these tired reenactments
With the right step she'll try her chances
Somewhere else

There he is a step outside her view
Reciting the words he hoped she might pursue
Night upon night a faithful light at shore
If he'd only convince his legs across the floor

Please, don't watch me dancing
Oh no, don't watch me dancing

Something changes when she glances
Enough to teach you what romance is
With the right step they try their chances
Somewhere else

Please, don't watch me dancing
Don't watch me dancing



mar-garid-a ; don't watch me dancing
 - little joy - bnk