quinta-feira, 28 de agosto de 2014

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Nossos corpos não conseguem ter paz
Em uma distância
Nossos olhos são dengosos demais
Que não se consolam, clamam fugazes
Olhos que se entregam, olhos ilegais

[...]

Eu só sei que eu quero você
Pertinho de mim
Eu, quero você dentro de mim
Eu, quero você em cima de mim

[...]

Olhos que se entregam -

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

waly s.

Criar é não se adequar à vida como ela é,
Nem tampouco se grudar às lembranças pretéritas
Que não sobrenadam mais.
Nem ancorar à beira-cais estagnado,
Nem malhar a batida bigorna à beira-mágoa.

Nascer não é antes, não é ficar a ver navios,
Nascer é depois, é nadar após se afundar e se afogar.
Braçadas e mais braçadas até perder o fôlego
(Sargaços ofegam o peito opresso),
Bombear gás do tanque de reserva localizado em algum ponto
Do corpo
E não parar de nadar,
Nem que se morra na praia antes de alcançar o mar.

Plasmar

bancos de areias, recifes de corais, ilhas, arquipélagos, baías,
espumas e salitres,
ondas e maresias.

Mar de sargaços

Nadar, nadar, nadar e inventar a viagem, o mapa,
o astrolábio de sete faces,
O zumbido dos ventos em redemunho, o leme, as velas, as cordas,

Os ferros, o júbilo e o luto.
Encasquetar-se na captura da canção que inventa Orfeu
Ou daquela outra que conduz ao mar absoluto.

Só e outros poemas
Soledades
Solitude, récif, étoile.

Através dos anéis escancarados pelos velhos horizontes
Parir,
desvelar,
desocultar novos horizontes.
Mamar o leite primevo, o colostro, da Via Láctea
E, mormente,
remar contra a maré numa canoa furada
Somente
para martelar um padrão estoico-tresloucado
De desaceitar o naufrágio.
Criar é se desacostumar do fado fixo
E ser arbitrário.


Sendo os remos imateriais.
- Remos figurados no ar pelos círculos das palavras.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

rarasflores

A arte de perder não é difícil de dominar
Tantas coisas parecem cheias da intenção de serem perdidas
Que sua perda não é um desastre.
Perca alguma coisa todos os dias
Aceite o contra-tempo de perder as chaves da porta
A hora gasta inútilmente.
A arte de perder não é difícil de dominar.
Depois, pratique perder mais, perder mais rápido
Lugares, nomes, situações….tantas coisas
Eu perdi duas cidades, dois rios, um continente
Eu os perdi, mas não foi um desastre.
Até mesmo perder você, a voz brincalhona
aquele gesto que eu adoro
Eu não terei mentido, é evidente
A arte de perder não é difícil de dominar
embora sempre continue parecendo um desastre.


E. Bishop;

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

verbal-life

no avesso do dia,
lídice apontou o indicador
e desenha sobre a pele
como tatuagem,
um totem para seu libelo:
ama e ao mesmo tempo
       disfarça
       esquece
       esconde-se
       divaga
       declina
       e cala-se
seu archanjo guarda nos olhos
seis âncoras
e lança uma garrafa com sete linhas ao centro:
   disfarce é a neblina do sujeito
que esquece
esconde
divaga
declina
e permanece calado
   amor é  predicado
Ehre

ah, jão

Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o lugar. Viver é muito perigoso...
Sertão: estes seus vazios.


João Guimarães Rosa

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Il vient'

L'amour est enfant de boheme
Il n'a jamais jamais connu de lois

L'un parle bien, l'autre se tait
Et c'est l'autre que je prefere
Il n'a rien dit [...]

Prends garde a toi, Carmen.

e.morin


Não há uma pegada no meu caminho que não passe pelo caminho do outro;

"O amor é poesia. Um amor nascente inunda o mundo de poesia, um amor duradouro irriga de poesia a vida cotidiana, o fim do amor devolve-nos a prosa"

- Na arte que o homem se ultrapassa definitivamente [...]




terça-feira, 5 de agosto de 2014

ner-ú


Depois de tudo te amarei
como se fosse sempre antes
como se de tanto esperar
sem que te visse nem chegasses
estivesses eternamente
respirando perto de mim


Pablo N.

domingo, 3 de agosto de 2014

comeu'

"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato
O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço
O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome
O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas, 
O amor comeu metros e metros de gravatas
O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus
O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos
O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão
Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte"

Dos três mal amados;
Cordel do Fogo Encantado.