quinta-feira, 29 de maio de 2014

ar[re]pi - o

"Quando te vi amei-te já muito antes.
Tornei a achar-te quando te encontrei.
Nasci pra ti antes de haver o mundo.
Não há cousa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que o não fosse porque te previa,
Porque dormias nela tu futuro"

Fernando Pessoa - sobre el verbo'

quarta-feira, 28 de maio de 2014

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Ela era branca, branca
Dessa brancura que não se usa mais
Mas sua alma era furta-cor

Mario Quintana

enetil'

[...] No dia seguinte, ele acordou sozinho, mas saiu da cama sem fazer alarde e escovou os dentes abrindo pouco a torneira, pra não fazer barulho [...]
A gente acha que pode determinar onde e quando vão ser as despedidas definitivas, que vamos conseguir tornar esses momentos destacáveis, que vamos ser capazes de colocar neles um ritual, mas não.

O último adeus sempre vem como as coisas mais importantes da vida, absolutamente sem aviso.

[...]

O Ritual das despedidas - Papo de H.

ar-g



"Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros, ou por onde for"

segunda-feira, 26 de maio de 2014

a tregua'

"Do quarto, ela me chamou. Ela havia se levantado, assim, envolta na colcha, e estava junto à janela, olhando a chuva. Aproximei-me, também olhei como chovia, por um instante não dissemos nada. De repente, tive a consciência de que esse momento, de que esse pedaço de cotidianidade, era o grau máximo do bem-estar, era a Felicidade. Nunca havia sido tão plenamente feliz como nesse momento, mas tinha a sensação dilacerante de que nunca mais voltaria a sê-lo, ao menos nesse grau, com essa intensidade. O cume é assim, claro que é assim. Além disso, estou certo de que o cume dura apenas um segundo, um breve segundo, uma centelha instantânea e sem direito à prorrogação"

[...] Ela me dava a mão e então nada mais faltava. Bastava para que eu me sentisse bem acolhido. Mais que beijá-la, mais que dormirmos juntos, mais que qualquer outra coisa, ela me dava a mão e isso era o amor.[...]


 - Mario Benedetti,