nascemos em poemas diversos
destino quis que a gente se achasse
na mesma estrofe e na mesma classe
no mesmo verso e na mesma frase
rima à primeira vista nos vimos
trocamos nossos sinônimos
olhares não mais anônimos
nesta altura da leitura
nas mesmas pistas
mistas a minha a tua a nossa linha'
terça-feira, 28 de maio de 2013
terça-feira, 14 de maio de 2013
Explicação
Meu verso é minha consolação.
Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem sua cachaça.
Para beber, copo de cristal, canequinha de folha-de-flandres,
folha de taioba, pouco importa: tudo serve.
Para louvar a Deus como para aliviar o peito,
queixar o desprezo da morena, cantar minha vida e trabalhos
é que faço meu verso. E meu verso me agrada.
Meu verso me agrada sempre...
Ele às vezes tem o ar sem-vergonha de quem vai dar uma cambalhota,
mas não é para o público, é para mim mesmo essa cambalhota.
Eu bem me entendo.
Não sou alegre. Sou até muito triste.
A culpa é da sombra das bananeiras de meu país, esta sombra mole, preguiçosa.
Há dias em que ando na rua de olhos baixos
para que ninguém desconfie, ninguém perceba
que passei a noite inteira chorando.
Estou no cinema vendo fita de Hoot Gibson,
de repente ouço a voz de uma viola...
saio desanimado.
Ah, ser filho de fazendeiro!
À beira do São Francisco, do Paraíba ou de qualquer córrego vagabundo,
é sempre a mesma sen-si-bi-li-da-de.
E a gente viajando na pátria sente saudades da pátria.
Aquela casa de nove andares comerciais
é muito interessante.
A casa colonial da fazenda também era...
No elevador penso na roça,
na roça penso no elevador.
Quem me fez assim foi minha gente e minha terra
e eu gosto bem de ter nascido com essa tara.
Para mim, de todas as burrices a maior é suspirar pela Europa.
A Europa é uma cidade muito velha onde só fazem caso de dinheiro
e tem umas atrizes de pernas adjetivas que passam a perna na gente.
O francês, o italiano, o judeu falam uma língua de farrapos.
Aqui ao menos a gente sabe que tudo é uma canalha só,
lê o seu jornal, mete a língua no governo,
queixa-se da vida (a vida está tão cara)
e no fim dá certo.
Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou.
Eu não disse ao senhor que não sou senão poeta.
Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)
Meu verso é minha consolação.
Meu verso é minha cachaça. Todo mundo tem sua cachaça.
Para beber, copo de cristal, canequinha de folha-de-flandres,
folha de taioba, pouco importa: tudo serve.
Para louvar a Deus como para aliviar o peito,
queixar o desprezo da morena, cantar minha vida e trabalhos
é que faço meu verso. E meu verso me agrada.
Meu verso me agrada sempre...
Ele às vezes tem o ar sem-vergonha de quem vai dar uma cambalhota,
mas não é para o público, é para mim mesmo essa cambalhota.
Eu bem me entendo.
Não sou alegre. Sou até muito triste.
A culpa é da sombra das bananeiras de meu país, esta sombra mole, preguiçosa.
Há dias em que ando na rua de olhos baixos
para que ninguém desconfie, ninguém perceba
que passei a noite inteira chorando.
Estou no cinema vendo fita de Hoot Gibson,
de repente ouço a voz de uma viola...
saio desanimado.
Ah, ser filho de fazendeiro!
À beira do São Francisco, do Paraíba ou de qualquer córrego vagabundo,
é sempre a mesma sen-si-bi-li-da-de.
E a gente viajando na pátria sente saudades da pátria.
Aquela casa de nove andares comerciais
é muito interessante.
A casa colonial da fazenda também era...
No elevador penso na roça,
na roça penso no elevador.
Quem me fez assim foi minha gente e minha terra
e eu gosto bem de ter nascido com essa tara.
Para mim, de todas as burrices a maior é suspirar pela Europa.
A Europa é uma cidade muito velha onde só fazem caso de dinheiro
e tem umas atrizes de pernas adjetivas que passam a perna na gente.
O francês, o italiano, o judeu falam uma língua de farrapos.
Aqui ao menos a gente sabe que tudo é uma canalha só,
lê o seu jornal, mete a língua no governo,
queixa-se da vida (a vida está tão cara)
e no fim dá certo.
Se meu verso não deu certo, foi seu ouvido que entortou.
Eu não disse ao senhor que não sou senão poeta.
Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)
domingo, 12 de maio de 2013
mãe
Donela menina de pano
Linda boneca de pena
Vai parir não vai parar
Crianças de aquarela
Vai criar um coração
de um tamanho que não cessa
Vai cuidar da criação
A flor de filho a pedra e a água
A filha pede a madrugada
Tudo em volta gira e gera
Tudo em volta não espera
Mãe porque o sorvete é de soja
Mãe porque eu não posso dormir sujo
Mãe me diz o que quer que eu seja
Mãe me diz quem é você
Mãe me diz que é Fidel e o que é um Papa
Mãe como você faz pra voar
Mãe porque não mata barata
Mãe me diz quem é você
"Mãe me diz quem é você"
Linda boneca de pena
Vai parir não vai parar
Crianças de aquarela
Vai criar um coração
de um tamanho que não cessa
Vai cuidar da criação
A flor de filho a pedra e a água
A filha pede a madrugada
Tudo em volta gira e gera
Tudo em volta não espera
Mãe porque o sorvete é de soja
Mãe porque eu não posso dormir sujo
Mãe me diz o que quer que eu seja
Mãe me diz quem é você
Mãe me diz que é Fidel e o que é um Papa
Mãe como você faz pra voar
Mãe porque não mata barata
Mãe me diz quem é você
"Mãe me diz quem é você"
segunda-feira, 6 de maio de 2013
Afinidade acontece - um mesmo signo, um mesmo par de
Sapatos caramelo, um mesmo livro de cabeceira.
Afinidade acontece entre seres humanos. a mesma frase
Dita ao mesmo tempo, o diálogo mudo dos olhares e a
Certeza das semelhanças entre o que se canta e o que
Se escreve. afinação acontece. um mesmo acorde, um
Mesmo som, uma mesma harmonia. afinação acontece entre
Instrumentos musicais. a mesma nota repetidas vezes, a
Busca pela perfeição sonora e a certeza das
Similaridades entre um tom acima e um tom abaixo. a
Incrível mágica acontece quando os instrumentos
Musicais descobrem afinidades humanas entre si no
Mesmo instante em que os seres humanos descobrem
Afinações musicais dentro deles mesmos'
Anitelli
Sapatos caramelo, um mesmo livro de cabeceira.
Afinidade acontece entre seres humanos. a mesma frase
Dita ao mesmo tempo, o diálogo mudo dos olhares e a
Certeza das semelhanças entre o que se canta e o que
Se escreve. afinação acontece. um mesmo acorde, um
Mesmo som, uma mesma harmonia. afinação acontece entre
Instrumentos musicais. a mesma nota repetidas vezes, a
Busca pela perfeição sonora e a certeza das
Similaridades entre um tom acima e um tom abaixo. a
Incrível mágica acontece quando os instrumentos
Musicais descobrem afinidades humanas entre si no
Mesmo instante em que os seres humanos descobrem
Afinações musicais dentro deles mesmos'
Anitelli
Assinar:
Postagens (Atom)